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Alfredo Ferreira de Magalhães
Cadeira: 3
Patrono: Alfredo Ferreira de Magalhães

 Nasceu Alfredo Ferreira de Magalhães em Salvador, Bahia, em 10 de fevereiro de 1873. Em sua tese de concurso, ele dedica aos pais, sendo que o nome da mãe está inelegível (Corbinianni ?) e o do pai é Aristides de Magalhães (Figura 3). Muito jovem, com 13 anos, em 1886, se matriculou na Faculdade de Medicina e de Farmácia da Bahia (MAGALHAES, 1895; LACAZ, 1963, p. 35; ALFREDO..., 2011).

Ainda estudante foi, por concurso, Ajudante de Preparador de Botânica e Zoologia Médicas (1887-1891) e depois Interno da 1ª Cadeira de Clínica Médica em 1891, cujo Lente era o Prof. Ramiro Afonso Monteiro. Interno do Hospital de Caridade da Casa da Santa Misericórdia. Diplomou-se em Medicina em 5 de dezembro de 1891, aos 18 anos de idade. Sua tese inaugural foi O Hypnotismo e a Suggestão, suas apllicações à clínica e consta no acervo da Bibliotheca Gonçalo Moniz (MEIRELLES et al., 2004, p. 52).

Prof. Alfredo de Magalhães iniciou sua carreira docente como Preparador por concurso de Química Orgânica (1893), tinha feito também na cadeira de Física Médica. Depois, em 1895, foi Lente Substituto, também por concurso da 9ª Seção. Apresentou como tese de concurso o trabalho “Da alimentação das crianças em geral e sob o ponto 2 de vista da higiene e da clínica” (MAGALHAES, 1895), que ele dedica a sua filha Guiomar, provavelmente a primogênita.

Regeu interinamente a cadeira de Clínica Pediátrica de 1896 a 1897. Exerceu também como substituto da 7ª Seção e regeu interinamente a cadeira de História Natural Médica (1901) e a de Clínica Propedêutica (1907). Foi Professor Ordinário de Clínica Pediátrica e Cirúrgica e Ortopedia (1911-1915), área onde se destacou.

Participou com o Prof. Alfredo Britto da primeira produção de raios de Röentgen (Raio X), em abril de 1896. Foi o autor da Memória Histórica da Faculdade de Medicina de 1912. Neste ano, publicou um impresso “Proeugenismo”, que dedicou a seus três filhos: “Gualberto, Galeno e Galdino” (MAGALHÃES, 1930). Casado com Maria Egydia da Silva Magalhães, gostava tanto de crianças que tiveram ainda mais onze, num total de 14 filhos. (PORTO FILHO, 2013).

Foi sócio fundador da Sociedade de Medicina e Cirurgia, em cujos Anais publicou seus primeiros trabalhos, e também da Sociedade de Medicina Legal do Estado da Bahia (MAGALHÃES, 1895).

Em 1903 é criado em Salvador o Instituto de Proteção e Assistência à Infância (IPAI), com sua participação efetiva, sendo devidamente instalado em 1909. O IPAI inaugura seu Dispensário Infantil em 13 de maio de 1904 e, em 13 de maio de 1907, cria o periódico O Petiz. Nele, Prof. Magalhães publica 13 artigos sobre a “puericultura profilática”. De outubro de 1903 a maio de 1905, no Jornal de Notícias, o mestre já tinha publicado 38 artigos sobre a Higiene infantil, dando ênfase no papel do alcoolismo, sífilis e tuberculose na herança, na perspectiva de uma puericultura preventiva (MAGALHÃES, 1930).

Apresentou a comunicação “Protection de l’enfance à Bahia, Brésil”, no 2º Congresso Internacional de Gotas de Leite, reunido em Bruxelas, Bélgica de 12 a 16 de setembro de 1907. Em 1913, fez viagem de estudos à Europa, mantendo garantida todas as vantagens do cargo de decente. Depois, em 1916, representou a FMB na delegação brasileira no “1º Congresso Americano da Criança”, em Buenos Aires, Argentina, apresentando o trabalho “A Proteção e a Assistência à Infância na Bahia”, no dia 10 de julho de 1916 e fazendo duas conferências no mesmo evento: a primeira, “Institutos de Proteção à Infância no Brasil”, naquele mesmo dia; e a segunda, “A casa dos Expostos do Rio de Janeiro”, em 14 de julho. Logo depois, foi convidado para apresentar o mesmo tema perante a Sociedade Científica Protetora da Infância, no Rio de Janeiro, em 23 de julho de 1916.

Elaborou para o 2º Congresso Americano da Criança, em Montevidéu, a memória “Diagnóstico e tratamento das adenites tuberculosas”, em 1918. Participou do I Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, em Salvador, Bahia, apresentando trabalhos como o do tema oficial “Progressos da Ortopedia no Brasil, necessidade de sua intensificação” e “Atentado ao pudor das crianças: profilaxia e meios coercitivos”. Em 23 de outubro de 1919 recebeu o título de Membro Honorário da Academia Nacional de Medicina. Esteve presente no II Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, na capital federal do Rio de Janeiro, em 1922, tendo apresentado o trabalho “Da helioterapia na infância” e na I Conferência Nacional de Proteção à Infância, também no Rio, dez anos depois (em 1933), apresentando “Notas práticas e simplificadas a adotar na alimentação do pré-escolar no Brasil” (OLIVEIRA, 1992; ANM, 2020). Sua obra soma mais de 400 publicações (COSTA, 1993), muitas destacadas pelo memorialista da FMB de 1942, Eduardo de Sá Oliveira (1992) em sua biografia breve dos “professores falecidos”.

Como não fazemos uma história celebratória, temos que registrar que o Prof. Alfredo Magalhães assumiu a tese da eugenia, teoria criada por Francis Dalton, em 1865, tendo escrito trabalhos sobre a educação eugênica. Um desses trabalhos, foi lido pelo autor desta breve biografia: “Educação eugênica em geral, consciência da responsabilidade eugênica na família, nas escolas e nas universidades” (MAGALHÃES, 1930). Nele, o uso do termo raça, aparece no singular e num momento usa o de “espécie”. Não nos pareceu que ele assuma as teses de racismo, xenofobia etc. que, nos anos 30, já sob a influência do nazifascismo, começou a ficar presente em publicações médicas. (COSTA, 1980)

É preciso destacar seu protagonismo na assistência a infância na Bahia. Dr. Alfredo Magalhães foi sócio fundador, benemérito e Diretor-Médico do Instituto de Proteção à Infância.

Foi também Professor da cadeira de Higiene do Instituto Normal, em Salvador, e seu diretor por muitos anos. Em 1925 e 1926, então diretor, sofreu forte campanha contra ele, como um professor que “ofendia o decôro das alumnas usando linguagem licenciosa e falando coisas imprudentes e desnecessárias” (MAGALHAES, [1930] 2002, p. 196). Disse ter resistido “as letras difamantes”, concluindo seu mandato em 1927. Com sua paixão pela memória histórica escreveu “A galeria dos professores falecidos da Escola Normal”, publicado em 1934, na Revista do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. (OLIVEIRA, 1992)

Ele construiu no Morro do Menino Jesus, no bairro de Rio Vermelho, em área doada por Adolpho Moreira, o Hospital das Crianças, inaugurado em 25 de dezembro de 1936. Era a realização de um sonho iniciado em 1903, quando foi criado o Instituto de Proteção e Assistência à Infância da Bahia, para oferecer serviços médicos gratuitos às crianças carentes, de zero até quinze anos (PORTO FILHO, 2013).

Em 1938, com a transferência do Prof. Joaquim Martagão Gesteira para a Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, em 1938, assumiu a vaga de professor Catedrático de Clínica Pediátrica e Higiene Infantil, ficando até 1941, quando se aposentou (OLIVEIRA, 1992; ALFREDO..., 2011).

Dois anos depois, com um grave problema circulatório, em 16 de fevereiro de 1943, ele se encantou em sua terra natal. Com seu encantamento, a unidade hospitalar do bairro passou a se chamar Hospital das Crianças Alfredo Magalhães (PORTO FILHO, 2013).

Todos os seus biógrafos registram que sua vida foi quase toda ela dedicada à criança. Disse ele:

[...] de mim espero em Deus que saberei trabalhar até o fim e, quando um dia me sobrevier a pausa do coração, [...] não seja lamentada a minha sorte, fique esquecido, si quiserem, o cidadão brasileiro, não olvidem, porém, que o amor pelo bem da criança me teve dedicado ao seu serviço, por um viver quase inteiro, até o suspiro derradeiro, sem poupar esforços, sem visar interesses (apud LACAZ, 1963, p. 35)

O Prof. Alfredo Magalhaes teve uma produção científica muito grande, participando de congressos e outros eventos nacionais e internacionais, mas também com publicações na Gazeta Médica da Bahia, no Brasil Médico, além de uma presença efetiva e assídua nos jornais da grande imprensa baiana como Jornal de Notícias, A Tarde etc.

Em sua Memória Histórica da Fameb, “concernente ao ano de 1942”, o Prof. Eduardo de Sá Oliveira faz uma consideração final em sua biografia do mestre:

Mostrou-se sempre o Dr. Magalhães um administrador infatigável e empreendedor, um professor de vasta cultura, uma inteligência fecunda, um clínico humanitário. Inaugurou, no Brasil, o ensino oficial da cadeira de Clínica Pediátrica Cirúrgica e Ortopedia. (OLIVEIRA, 1992, p. 367)

Já o Prof. Adriano Pondé, Catedrático de Clínica Propedêutica Médica (JACOBINA, 2013), registra que Alfredo Magalhães foi um insigne batalhador pela causa da criança desvalida em nossa terra” (apud LACAZ, 1963, p. 35).

Alfredo Ferreira de Magalhães é o Patrono da Cadeira n. 3 da Academia de Medicina da Bahia Foram Titulares da Cadeira n. 3: Antônio Souza Lima Machado, Eliezer Audíface, José de Souza Costa e a Titular atual é a confreira Graciete Oliveira Vieira.

Referências

ALFREDO Ferreira de Magalhães. Médicos Ilustres da Bahia e de Sergipe, Salvador, 13 de janeiro de 2011. Disponível em: http://medicosilustresdabahia.blogspot.com/2011/01/alfredo-ferreira-de-magalhaes.html Acesso em 3 de agosto de 2021.
COSTA, José de Souza. Discurso de Posse [na AMBa]. Anais da Academia de Medicina da Bahia, Salvador, v. 9, p. 71-77, set. 1993
COSTA, Jurandir Freire. História da psiquiatria no Brasil: um corte ideológico. 3ed. Rio de Janeiro: Campus, 1980.
JACOBINA, Ronaldo Ribeiro. Memória Histórica do bicentenário da Faculdade de Medicina da Bahia (2008) – Volume III – Professores, Funcionários e Alunos da FAMEB. Salvador: FAMEB-UFBA, 2013. 534p.
LACAZ, Carlos da Silva. Alfredo Magalhães (1873-1943). In: LACAZ, Carlos da Silva. Vultos da Medicina Brasileira. São Paulo, 1963. p. 35.
MAGALHÃES, Alfredo F. de. Da alimentação das crianças em geral e sob o ponto de vista da higiene e da clínica” Tese de Concurso ao lugar de Lente Substituto da 9ª Secção. Faculdade de Medicina e de Farmácia da Bahia. Salvador, BA: Imprensa Econômica, 1895.
MAGALHÃES, Alfredo F. de. Educação eugênica em geral, consciência da responsabilidade eugênica na família, nas escolas e nas universidades. Gazeta Médica da Bahia, Salvador, v. 60, n. 12, p. 523-544, jun. 2030.
MAGALHÃES, Alfredo F. de. Educação eugênica em geral, consciência da responsabilidade eugênica na família, nas escolas e nas universidades. In: BASTIANELLI, Luciana (comp.). Gazeta Médica da Bahia: 1866-1934 por uma associação de facultativos. Salvador: Edições Contexto, 2002. p. 190-197)
MEIRELLES, Nevolanda Sampaio; Santos, Francisca da Cunha; Oliveira, Vilma Lima Nonato de; Lemos-Júnior, Laudenor P.; Tavares-Neto, José. Teses doutorais de titulados pela Faculdade de Medicina da Bahia, de 1840 a 1928. Gazeta Médica da Bahia, Salvador, v. 74, n. 1, p. 9-101, jan.-jun. 2004
OLIVEIRA, Eduardo S. Memória histórica da Faculdade de Medicina da Bahia, concernente ao ano de 1942. Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA, 1992.
PORTO FILHO, Ubaldo Marques. Alfredo Magalhães. Salvador, jul. 2013. Disponível em: http://www.ubaldomarquesportofilho.com.br/paginas.aspx?id=336&tipo=2
Acesso em: 3 de agosto de 2021.

Ronaldo Ribeiro Jacobina*
Titular da Cadeira nº 29 da Academia de Medicina da Bahia.
Titular da Cadeira nº 7 do Instituto Bahiano de História da Medicina e Ciências Afins.
Professor Titular de Medicina Preventiva e Social, FAMEB-UFBA.
14 de outubro de 2021

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