Academia de Medicina da Bahia Scientia Nobilitat
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Antônio Ferreira França
Cadeira: 8
Patrono: Antônio Ferreira França

ANTONIO FERREIRA FRANÇA

Patrono da Cadeira N. 08 da Academia de Medicina da Bahia

Antônio Ferreira França nasceu em Salvador, Bahia no dia 14 de janeiro de 1771. Concluiu os estudos de Humanidades e, desobedecendo a vontade dos pais para seguir seu sonho de ser médico, viajou para Portugal, já que a Colônia, como sabemos, naquele momento não tinha uma escola médica. Ingressou na tradicional Universidade de Coimbra, tendo em sua formação um desempenho referido como “de brilho invulgar”. (SOUZA, 1973, p. 51)

Graduou-se no curso de Medicina, mas como não era incomum na época também fez formação em Filosofia e Matemática. Depois de diplomado, pelo desempenho que teve nos cursos, foi convidado para ser professor da Universidade. Agradeceu o convite e se sentiu muito honrado, mas regressou à sua terra natal.

Ao chegar, foi designado a ensinar aritmética e geometria (uma de suas primeiras obras foi “Preleções de Geometria”). Foi professor de Geometria e Grego no Liceu Provincial, tendo sido mais tarde diretor 91841-1848) desta importante instituição educacional. (OLIVEIRA, 1992)

Em 1810, foi nomeado Lente Visitador das Escolas Régias da Bahia. Com a reforma de 1915-16, formalizada também em Carta Régia, que transformou a Escola de Cirurgia da Bahia em Colégio Médico cirúrgico, foi nomeado Lente de Higiene, ficando na cátedra até 1832. Neste ano a escola mater da Medicina brasileira teve nova e importante reforma, sendo renomeada para Faculdade de Medicina da Bahia (FMB, sigla; Fameb, acrônimo); e Prof. Ferreira França foi transferido para a cadeira de Patologia Interna. Em 1837, tornou-se Lente Jubilado.

Pela sua experiência como professor em Higiene Pública, foi membro do Conselho Provincial e merece destaque seu “Parecer sobre medidas preventivas e de momento contra a cólera morbus”, publicado no Semanário de Saúde Pública, Tomo II (ALBUQUERQUE, 1920). Em sua carreira como médico trabalhou no Hospital Militar, atuou na Santa Casa de Misericórdia e há referência que teria sido um dos médicos de D. Pedro I. (OLIVEIRA, 1992)

Na breve biografia do Prof. Ferreira França, o memorialista da Eduardo de Sá Oliveira destaca: “Além de mestre insigne, mostrou-se um clínico boníssimo e de grande cultura, no seu tempo. Essa cultura resultou de uma excepcional inteligência, revelada desde os tempos de estudante em Coimbra, aliada a um amor irresistível às ciências”. (OLIVEIRA, 1992, p. 126)

Entre as Honrarias recebidas, destaque-se a recebida em 1810, agraciado com o Hábito da Ordem de Cristo, de D. Maria I e de seu Príncipe Regente, Dom João, pelos seus relevantes serviços prestados. (SOUZA, 1973; OLIVEIRA, 1992)

Outro destaque em sua vida foi sua carreira política, muito frequente entre médicos e advogados. Sua carreira começou como Vereador de Salvador, em 1922, quando já se destacou na luta pela Independência, questionando a nomeação do General Madeira de Melo para Governador das Armas da Bahia. (SOUZA, 1973)

Em 1823, é eleito Deputado à Constituinte Brasileira e depois foi reeleito para várias legislaturas. Sua atuação parlamentar foi brilhante. Além da participação na luta pela Independência do país, foi um destacado abolicionista, tendo sido um dos primeiros a defender a libertação dos escravos. O memorialista da Fameb Prof. Caio Moura, em sua Memória Histórica de 1914 afirma que o Deputado Antônio Ferreira França, em sessão de 16 de junho de 1831, o primeiro projeto de lei para a extinção da escravidão: “Na escura noite da moral e da economia política, que reinava naquela época em que ‘a nação, como diz Joaquim Nabuco, estava à mercê dos agentes do tráfico’, ele [o projeto] não foi julgado objeto de deliberação.”

Para se ter uma ideia da lucidez deste parlamentar na frente do seu tempo, ou como se expressa o memorialista Caio Moura: “de quanto se distanciava, do nível comum, o espírito do preclaro professor baiano”, eis alguns de seus projetos: União das províncias por federação; criação de um Congresso onde sejam decididas as questões entre as nações; Abolição da pena de morte (6 de maio de 1830); Declaração da liberdade de todos os que nascessem de ventre escravo no Brasil (15 de julho de 1837). Outros projetos também citados pela originalidade são: Criação de uma universidade no Rio de janeiro e o direito das mulheres a se habilitarem ao exercício da medicina. (TEIXEIRA, 1999)

Seu último mandato no Legislativo de sua destacada carreira política foi em 1834 a 1837, tendo sido eleitos também seus dois filhos Ernesto e Cornélio Ferreira França (OLIVEIRA, 1992).

O Prof. Rodolfo Teixeira, memorialista da FAMEB de 1943 a 1945, destaca o Prof. Antônio Ferreira França, reconhecendo-o como “uma personagem lendária e bondosa” e citando o médico francês naturalizado brasileiro José Francisco Xavier Sigaud, pois para Teixeira, ele o definiu de modo preciso como uma pessoa de “espírito filosófico, caráter original, indivíduo excêntrico”. (Apud TEIXEIRA, 1999, p. 82) Contudo, ressalta que o lendário Prof. Ferreira França foi muito mais político e legislador do que médico e professor de medicina.

Faleceu no dia 9 de março de 1848. Seu encantamento foi garantido com a escolha de seu nome para as academias médicas. É o Patrono da Cadeira N. 04 do nosso Instituto Baiano de História da Medicina e Ciências Afins.

Em nossa Academia de Medicina da Bahia, Dr. Antônio Ferreira França é o Patrono da Cadeira N. 08. O Titular anterior e Emérito foi o Professor Rodolfo dos Santos Teixeira e o atual Titular é o Confrade Jorge Raimundo Cerqueira e Silva.

Referências

ALBUQUERQUE, Anselmo Pires de. Archivo da Faculdade de Medicina da Bahia, ano 1920. Salvador, [192-?].

MOURA, Caio Octávio Ferreira de. Memória Histórica dos acontecimentos mais notáveis relativos ao ano de 1914. Salvador: Faculdade de Medicina da Bahia, 1914.

OLIVEIRA, Eduardo de Sá. Memória histórica da Faculdade de Medicina da Bahia, concernente ao ano de 1942. Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA, 1992. 441p

SOUZA, Antônio Loureiro. Baianos ilustres. 2 ed. Salvador; Secretaria da Cultura do Estado da Bahia, 1973. (1ª Edição de 1949: Prêmio Carlos de Laet, da Academia Brasileira de Letras, em 1950)

TEIXEIRA, Rodolfo. Memória Histórica da Faculdade de Medicina do Terreiro de Jesus (1943-1995). Salvador: Edufba, 1999.

 

Ronaldo Ribeiro Jacobina.
Titular da Cadeira nº 29 da Academia de Medicina da Bahia.
Professor Titular de Medicina Preventiva e Social, FAMEB-UFBA.
 

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