Academia de Medicina da Bahia Scientia Nobilitat
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Antonio Luis Cavalcanti de Albuquerque de Barros Barreto
Cadeira: 9
Patrono: Antonio Luis Cavalcanti de Albuquerque de Barros Barreto
Eleito: 11-05-1892 - Posse: 11-05-1892 - sob a presidência de

Nasceu no Engenho do Meio da Várzea, nas cercanias da Cidade do Recife, em 11 de maio de 1892. Na pia batismal, recebeu o nome de Antonio Luís Cavalcanti de Albuquerque de Barros Barreto, filho de D. Teresa Cavalcanti de Albuquerque de Barros Barreto e Ignacio de Barros Barreto, Bacharel em Direito, Deputado do Império e, no regime Republicano, Deputado federal. (BARROS BARRETO, 1948)

Seus estudos no curso primário foram ministrados por professor particular e, depois, matriculou-se no Ginásio Pernambucano, de ensino oficial, onde concluiu seu tirocínio no curso secundário, diplomando-se Bacharel em Ciências e Letras, em dezembro de 1910. 
Barros Barreto contraiu himeneu  com D. Maria Constança Góis Calmon de Barros Barreto, descendente de conceituada família baiana, com quem teve cinco filhos, dos quais quatro eram varões. 

Em 1910, matriculou-se na Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, graduando-se em 1916, quando lhe foi outorgado o título de aluno laureado e teve afixado seu retrato no Panteon, recebendo, ademais, o Prêmio de Viagem, consoante o Regulamento de 1901, que conferia ao aluno que alcançasse no curso acadêmico mais de 2/3 de aprovações com distinção, sem nenhum conceito "simplesmente". Recebeu apenas duas notas "plenamente”, grau nove no curso de medicina, sendo todas as outras notas consignadas com "distinção" no curso acadêmico.

Concluído o segundo ano de Medicina, em 1913, frequentou o Instituto Manguinhos, no Rio de Janeiro, matriculando-se no curso de Microbiologia e Zoologia Médica, concluído em 1914. Foi convidado por Oswaldo Gonçalves Cruz para continuar laborando na seção de Zoologia, onde elaborou sua tese de doutoramento Revisão da família subulurinae, onde estão registrados um gênero novo e oito novas espécies de helmintos parasitos, sendo aprovada com distinção pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.

Foi Interno do Hospital Central do Exército, no Rio de Janeiro, em 1914. Realizou, enquanto acadêmico, concurso de provas escrita, prática e oral, para assistente do Instituto Manguinhos, ao lado de outros cinco concorrentes, médicos, todos com experiência no âmbito das pesquisas científicas, classificando-se entre os melhores candidatos. Foi contratado de imediato para o cargo que desempenhou até 1921, quando se transferiu para o lugar de Inspetor Sanitário do Departamento Nacional de Saúde Pública, mediante concurso de provas escrita, oral e prática, qualificando-se em primeiro lugar, com o máximo de pontos dentre 81 candidatos inscritos. 

Em 1915, quintanista de Medicina, logrou conquistar, perante concurso de provas escrita e prático-oral, os lugares de auxiliar-acadêmico no Serviço de Assistência Pública da Prefeitura do Distrito Federal e de interno da Clínica Dermatológica e Sifilográfica da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, sempre se qualificando nos primeiros lugares.

No período de 1917 a 1920, na condição de assistente de Manguinhos, trabalhou em várias comissões científicas, entre elas a de Estudos de Biologia Marinha, na Ilha Grande, nas proximidades do Rio de Janeiro e a de Pesquisas sobre a etiologia e epidemiologia da febre amarela no Nordeste brasileiro, quando percorreu os Estados de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e grande parte do território baiano.

Viajou para a América do Norte em 1921, ao ser distinguido com o Prêmio de Viagem, quando frequentou a Johns Hopkins University, onde se diplomou como Doctor in Public Health após sustentar tese intitulada The action of X-rays on basal metabolism. Dos Estados Unidos partiu para o Velho Mundo, onde fez cursos de especialização em Paris, no Hôpital Saint-Louis, e em Berlim no Charité Krankenhaus e frequentou vários serviços de saúde pública em ambos os países, além da Bélgica, Suíça e Itália.

De volta ao Brasil no ocaso de 1923, chefiou a Seção de Propaganda e Educação Sanitária do Departamento Nacional de Saúde Pública, no Rio de Janeiro, escrevendo no Boletim Sanitário. No exercício dessas funções, fez parte da delegação brasileira ao Congresso Interamericano de Medicina Social e organizou o1º Congresso Brasileiro de Higiene, quando foi o secretário geral da comissão executiva, sendo ambos os eventos sediados na então Capital Federal, em 1924. No mesmo ano, fundou com outros colegas a Sociedade Brasileira de Higiene, quando foi indicado para secretário da sua primaz diretoria.

Logo nos albores de 1924, foi nomeado Chefe do Serviço de Saneamento Rural no Paraná, sendo, por mérito, promovido a cargo equivalente no Estado da Bahia, onde desembarcou em outubro do dito ano, e indicado depois para a direção da Saúde Pública Estadual.  

Em virtude da sua multifacetada cultura e subida e proficiente atuação nos serviços sanitários, além dos relatórios técnicos circunstanciados e reformas levadas a efeito, contou com o apreço e apoio dos governadores Francisco Marques de Góis Calmon, Vital Henrique Baptista Soares e Juracy Montenegro Magalhães. 
Na condição de representante oficial do Estado da Bahia, ficou à testa da delegação nos Congressos Brasileiros de Higiene, realizados em São Paulo e Recife.
Organizou o 4º Congresso Brasileiro de Higiene, sediado em 1928 na cidade do Salvador. Nesse conclave memorável compareceram figuras exponenciais que pontificaram no mundo médico e científico nacional do seu tempo, tais como: Miguel de Oliveira Couto, Júlio Afrânio Peixoto e Clementino da Rocha Fraga Júnior.
Vocacionado ao magistério, desde quando era estudante em 1914, já ministrava lições no Curso de Manguinhos, no Rio de Janeiro. Mediante concurso de provas e títulos alcançou a Docência Livre de Higiene, em 1926, e a de Parasitologia na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1934.

Conquistou a cátedra de Parasitologia da Faculdade de Medicina da Bahia em 1936, por concurso de provas e títulos, no qual conquistou o máximo de pontos, sendo distinguido com grau 10, por parte de todos os componentes da banca examinadora, em todas as provas.  
Já exercendo as funções de professor catedrático de Parasitologia, diplomou-se em Farmácia pela Escola Anexa de Farmácia da Faculdade de Medicina da Bahia, em 1937.

Para o provecto e afamado Ginásio da Bahia foi nomeado professor catedrático de História Natural, em 1936. Todavia, por força de dispositivo constitucional que obstava acumulações remuneradas no funcionalismo público, teve de renunciar ao cargo, em 1937. 

Foi eleito pela Congregação orador oficial para proferir a Aula Inaugural dos cursos na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1938.  Examinou os concursos para professor catedrático de Higiene, na Faculdade de Medicina da Bahia, e de Parasitologia, na Faculdade de Medicina de Porto Alegre, ambos em 1939; de Higiene, na Faculdade Nacional de Medicina da Universidade do Brasil, em 1942; de Anatomia Patológica, na Faculdade de Medicina da Universidade da Bahia, em 1950; e de Clínica Dermatológica e Sifilográfica, na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1952.

Foi também examinador de Botânica aplicada à Farmácia em concurso para docente-livre na Escola de Farmácia da Bahia, em 1941 e Paraninfo dos médicos graduados pela Faculdade de Medicina da Bahia, no mesmo ano.
No azo da entrada do Brasil na segunda guerra mundial, o Prof. Barros Barreto inscreveu-se no curso de Especialização, organizado pela 6ª Região Militar. Ao término, foi nomeado Major do Exército de 2ª linha, médico, pelo Decreto de 7 de fevereiro de 1944, pelo Governo da República. Fundada a Faculdade de Filosofia da Bahia, em 1942, participou de seu corpo docente, ministrando a cátedra de Geologia e Paleontologia.

Foi comissionado pelas Faculdades de Medicina e de Filosofia da Universidade da Bahia para estudar os métodos de ensino da Parasitologia e da Geologia nos EUA, onde permaneceu por seis meses (fevereiro a agosto de 1951). Diplomado em Medical Mycology, pela Duke University, Durham, North Carolina. América do Norte - Curso do Prof. N. F. Conant, em 1951.

O Prof. Barros Barreto pertenceu, entre outras, às seguintes instituições culturais e científicas: 1 – No Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Dermatologia; Sociedade de Medicina e Cirurgia; Sociedade Brasileira de Biologia; Sociedade Brasileira de Ciências; Sócio fundador e ex-secretário geral da Sociedade Brasileira de Higiene do Rio de Janeiro; e Sócio correspondente da Academia Nacional de Medicina. 2 – No exterior: Membro da American Public Health Association; da American Social Hygiene Association; Membro correspondente da Sociedade Cirúrgica del Guayas-Guayaquil – Equador. 3 - Na Bahia: Sócio fundador e primeiro presidente da Associação dos Docentes Livres da Faculdade de Medicina da Bahia; Membro da Liga Bahiana Contra a Mortalidade Infantil; Sócio fundador da Sociedade de Pediatria da Bahia, da Liga Bahiana contra o Câncer e da Fundação Antituberculose Santa Terezinha – Bahia; Membro da Fundação Santa Luzia – Bahia; Sociedade Médica dos Hospitais; Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose; Instituto Geográfico e Histórico da Bahia; Sócio fundador da Associação Cultural Brasil-Estados Unidos; Associação dos Professores da Bahia; da Ala das Letras e das Artes – Bahia; Associação Bahiana de Medicina; Sociedade de Medicina Social e do Trabalho; Sócio da Associação Bahiana de Imprensa; Presidente do Sindicato dos Médicos da Bahia.

O professor foi o organizador dos 1º e 4º Congressos Brasileiros de Higiene, realizados respectivamente no Rio de Janeiro, em 1923, e Bahia, em 1928.
Barros Barreto foi também Membro Titular da cadeira nº 5 da Academia de Letras da Bahia, cujo patrono é Luís Antonio de Oliveira Mendes (Bahia, 1748-17--?), advogado na Bahia e sócio da Academia das Ciências de Lisboa. O recipiendário Prof. Barros Barreto foi empossado solenemente no sodalício, em 30 de setembro de 1948, sendo saudado pelo Prof. Francisco Peixoto de Magalhães Netto. (CASTRO, 1985)

Exerceu os seguintes cargos públicos: Chefe do Laboratório do Serviço Federal de Febre Amarela no Nordeste – 1919; Chefe do Distrito do Serviço de Saneamento Rural do Estado do Paraná – 1924; Chefe do Serviço de Saneamento Rural no Estado da Bahia – 1924 a 1930; Diretor Geral de Higiene no Estado da Bahia – 1924; Diretor Geral de Saúde Pública, nomeado por Decreto de 23 de outubro de 1924, em substituição ao Dr. Aristides Novis, que solicitara exoneração; Subsecretário de Estado da Saúde e Assistência Pública na Bahia – 1925 a 1929; Secretário de Estado da Saúde e Assistência Pública na Bahia – 1929 a 1930; Secretário de Educação e Saúde Pública na Bahia – 1935 a 1937.

Em sua Oração de Paraninfo, o prof. Alício Peltier de Queiroz, com indignação, registrou que o prof. Barros Barreto, assim como Mário Leal e Almir de Oliveira, entre outros professores da FAMEB, “[...] terminaram os seus grandes dias na pobreza extrema e irremediável”. (QUEIROZ, 1959, p. 9) 

O falecimento do professor Antonio Luiz Cavalcanti de Albuquerque de Barros Barreto ocorreu em 26 de junho de 1954, quando regressava de uma estação de cura em Caldas de Cipó. O corpo foi trasladado para a Faculdade de Medicina da Bahia, “[...] onde foi velado até às 16 horas de ontem em câmara ardente no salão nobre daquele estabelecimento. O enterro foi realizado ontem à tarde no cemitério do Campo Santo, com grande acompanhamento. À beira do túmulo, falaram diversos oradores". (A TARDE, 28 jun.1954). 
Seu nome foi escolhido para ser Patrono na Cadeira nº 9 da Academia de Medicina da Bahia.

Obras do Prof. Barros Barreto:
Dentre os 83 trabalhos científicos foram escolhidos os seguintes: 
Nota sobre Cucullanidae nov. fam., de nematoideos. Brasil Médico, 30, n, 45, p. 338, 1916.
Notas helmintológicas: III Cucullanus Pulcherrimus nov. sp. denematoideo. Brasil Médico, v. 32, n. 18, p. 137, 1918.  
Sobre as espécies brasileiras da subfamília Subulurinae, trav. 1914. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz, v. 9, p 10, 1919.
Notas entomológicas: I Estudos sobre a anatomia do gênero Triatoma - proboscida e tubo digestivo. Brasil Médico, v. 33, n, 21, p. 161, 1919.
Soroterapia na febre amarela (primeiras aplicações no Brasil do soro de Noguchi). Folha Médica, v. 1, n. 19, p. 152, 1920.
Sanitary significance of mosquitoes and others insects. Lecture in Sanitary Engineering, 1922.  Johns Hopkins University; Baltimore. Md. U., S. A.
Seasonal distribution of deaths by diarrhea under two years of  differents latitudes in the United States of America. Baltimore: School of Hygiene and Public Health Johns Hopkins University 1922.
The action of X-rays on basal metabolism. 1922. Thesis (Doctor of Public Health) - Johns Hopkins University Baltimore.
The effect of X-rays exposure on metabolism. Journal of Metabolic Research, v. 3, n. 5-6, p. 73, 1923.
Importância da educação e propaganda sanitária na defesa da saúde coletiva. Boletim Sanitário do D. N. S. P. v. 2, n. 3, p. 29, ago. 1923; Arquivos Brasileiros de Medicina, v. 13, n. 10, p.1035, out. 1923.
Estudos epidemiológicos sobre as gastro-enterites infantis. 1926. Tese (Concurso para a Docência-Livre de Higiene) - Faculdade de Medicina da Bahia.
Sodoco: aspectos na Bahia e profilaxia. Memória apresentada ao 4º Congresso Brasileiro de Higiene, jan. 1928. Elaborado em colaboração com o Prof. Martagão Gesteira.
Caminhoá e o herbário da Faculdade de Medicina da Bahia. Anais da Faculdade de Medicina da Bahia, Salvador, 1939. p. 281-400. 
Em torno da radioterapia das amídalas. Salvador, 1940. Palestra no Hospital Santa Izabel, nas homenagens prestadas ao radiologista uruguaio Dr. Pedro Barcia, em 22 de junho.
Fungos produtores da Doença de Pedroso e Carrion. O Hospital, Rio de Janeiro, v. 23, n. 4, p. 577-596 e v. 23, n.5, p. 743-764, –abr.- maio 1943; e Anais da Faculdade de Medicina da Bahia, 1940-1941, p. 89-140.
Doença de Chagas na Bahia: dois casos parasitologicamente confirmados. Brasil Médico, v. 59, n. 46 e 47; 17 e 24 nov. 1945. (Em colaboração com o Dr. Adriano Pondé).
Provas subsidiárias no Diagnóstico da Doença de Chagas. Anais da Faculdade de Medicina da Bahia, Salvador, 1947.
Compêndio de parasitologia. v.1 - Parte Geral; v. 2 - Protozoologia; v. 3 - Helmintologia; v. 4 - Artropodologia e Zoologia Médica; v. 5 - Micologia e Virologia.

Leituras recomendadas
BARROS BARRETO, Antônio Luís C. de A. Curriculum Vitae de Antonio Luís Cavalcanti de Albuquerque de Barros Barreto. Arquivo da Secretaria da Academia de Letras da Bahia. Salvador: Tipografia Beneditina / Bahia, 1948. 39p.
CASTRO, R. B. Breviário da Academia de Letras da Bahia: 7 de março de 1917 - 7 de março de 1985. Salvador: Bureau Gráfica e Editora, 1985. 
 

Ronaldo Ribeiro Jacobina.
Titular da Cadeira nº 29 da Academia de Medicina da Bahia.
 Professor Titular de Medicina Preventiva e Social, FAMEB-UFBA.

 

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