Academia de Medicina da Bahia Scientia Nobilitat
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Bernardo Galvão Castro Filho
Bernardo Galvão Castro Filho
Cadeira 40
24/05/2021
10:40
Webinário Pacto pela Vida 2

O papel das instituições de ensino e pesquisa e academias no enfretamento da pandemia Sars-Cov  2/Covid 19 na Bahia, realizado por iniciativa da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública,  em estreita colaboração com a Universidade Federal da Bahia, no dia sete de maio de 2021, das 16:00 às 18:00h, tendo como coordenadores os professores Maria Luísa Soliani, Reitora da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública  e João Carlos Salles, Reitor da Universidade Federal da Bahia.

Estou representando a Academia de Medicina da Bahia, na qualidade de Vice- presidente, no lugar de nosso ilustre Presidente Prof. Antônio Carlos Vieira Lopes, que pede desculpas porque surgiu outro compromisso inesperado e não pode comparecer.

Tudo parece tão igual!

Há cerca de 117 anos, em 1904 o Rio de Janeiro, conhecida como a “Cidade Maravilhosa”, era na realidade; um local insalubre, infestado por vários micróbios e assolado pela peste bubônica, varíola, febre amarela, tuberculose e outras doenças.

“Viaje direto para a Argentina sem passar pelos perigosos focos de epidemias do Brasil”.

Esta frase, tão atual, é na realidade uma propaganda de uma companhia de turismo europeia para tranquilizar seus clientes na 1ª

década do século XX.

 Um pouco antes, em 1895, 234 dos 337 indivíduos que constituíam 70% da tripulação de um navio italiano, o Lombardia, sucumbiram de febre amarela adquirida no porto do Rio de Janeiro.

Estes fatos tinham graves consequências econômicas, pois impediam as exportações e desencorajavam investimentos estrangeiros.

A Europa no fim do século XIX já tinha assimilado as grandes transformações resultantes da revolução industrial e das contribuições científicas fundamentais de Louis Pasteur e Robert Koch.

Louis Pasteur (1822-1895), desenvolveu a vacina antirrábica e,

esta descoberta, juntamente com a “variolização”, desenvolvida por Jenner no século XVIII, possibilitaram a Oswaldo Cruz a combater as doenças que afligiam o Rio de Janeiro.

As medidas adotadas, principalmente na Campanha de Vacinação obrigatória contra a varíola, culminaram com a “Revolta da Vacina” no início do século XX, em 13 de novembro de 1904 e resultou em 30 mortos, 110 feridos e cerca de 1000 presos tendo a metade sido deportado para o Acre.

A crise foi superada, as doenças controladas e a varíola, com a eficácia da vacina, foi erradicada da terra.

No meu discurso de posse na Academia de Medicina da Bahia em 10/12/2002 relembrei a frase proferida nos fins de 1916 pelo Prof. Miguel Pereira médico e membro da Academia Nacional de Medicina - “O Brasil é um grande hospital”, o que causou grande rebuliço no país. Para os jornais da época, era “indevida e grosseira”, mas instituições da maior credibilidade, tais como a Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, o Instituto Oswaldo Cruz e a Academia Nacional de Medicina não hesitaram em apoiar Miguel Pereira. Este apoio era embasado nas observações obtidas através das viagens realizadas pelos cientistas de “Manguinhos”, atualmente Fundação Oswaldo Cruz, pelo interior do Brasil, sob a liderança de Oswaldo Cruz. Estas viagens conhecidas como “Expedições Cientificas”, proporcionaram um diagnóstico dramático das condições de vida sub humana dos nossos compatriotas.

A frase dita por Miguel Pereira desencadeou um grande debate político e incentivou o saneamento do Rio de Janeiro.

A Academia Nacional de Medicina, através de seu presidente, o memorável Prof. Miguel Couto, teve um papel crucial para a criação da Liga Pró-Saneamento no Brasil, fundada em fevereiro de 1918. E conclamou a classe médica a participar de uma “Cruzada da Medicina pela Pátria”. Segundo ele “O médico deveria substituir as autoridades governamentais, ausentes na maior parte do território, bem como influir no comportamento das populações, persuadindo-as a tomarem medidas higiênicas que impedissem a propagação de doenças evitáveis que fazem o nosso descrédito e o nosso atraso.” Este é um dos papéis das Academias de Medicina e, como afirmou Adroaldo Albergaria, membro da Academia de Medicina da Bahia: “A Academia de Medicina não é apenas uma Instituição que visa ao conhecimento técnico e científico. As Academias de Medicina não podem ser lugares sombrios onde se escutam os sintomas, os pródromos, as variações sensoriais, as perturbações. Aqui dentro se seguem a voz das letras com grandes atenções e o indispensável conhecimento de todos os problemas. Assim, além da Ciência Médica, o desenvolvimento socioeconômico, no seu ritmo acelerado, os fatores psicossociais, a política educacional, as tradições cívicas, religiosas ou populares, os grupos étnicos, os aspectos demográficos, enfim a visão global de política brasileira.

A Academia de Medicina da Bahia, não hesitou em apoiar o movimento denominado de Pacto pela Vida e pelo Brasil afirmando que: “A grave crise sanitária e socioeconômica no enfrentamento à pandemia, Sars-2/Covid-19, que nosso país está vivendo urge uma manifestação veemente de todos. Esta grande tragédia nacional resulta do negacionismo à pandemia, da descoordenação das ações do Governo Federal e do Ministério da Saúde e da descrença na ciência e na medicina baseada em evidências cientificas. Cremos que poderemos contribuir coletivamente, respeitando os princípios assegurados pela Constituição brasileira, para a superação desse trágico momento. Nós médicos, que temos um compromisso com a vida, consternados expressamos nossos sentimentos aos familiares dos compatriotas que perderam suas vidas”.

Tudo parece tão igual, mas não é igual.

Há cerca de 100 atrás havia crença na ciência, ações coordenadas, e vacinas e a população não queria se vacinar, mas a varíola foi erradicada.

Hoje há a descrença da ciência, o negacionismo o povo que ser vacinado e não há vacinas e a pandemia grassa causando uma das maiores tragédia sanitária no nosso País.

Senhores, acredito que somente através de um esforço conjunto de todos nós, médicos e não médicos, sociedade e governo, as condições de saúde e socioeconômica no nosso País poderão ser melhoradas.

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