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Comitê Científico da Academia de Medicina da Bahia - Sinopse do debate sobre COVID-19.

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Era 29 de junho de 2020 às 18:00h quando a Academia de Medicina da Bahia se reuniu sob a Presidência do confrade Antonio Carlos Vieira Lopes para a segunda rodada de considerações de seus ilustres membros sobre a Pandemia da COVID-19, em acréscimo e, eventualmente, em consolidação das informações prestadas sobre o tema na primeira reunião havida em 08 de junho de 2020.

Tive a honra de, em nome do Comitê Cientifico da AMB, coordenar também a segunda reunião que, assim como a primeira, documentou informações precisas sobre o tema, oriundas de um plêiade de colegas confrades que, em suas áreas de ação,  trouxeram claras definições dos problemas, como eles são entendidos nesse dia.

Havia em todos os sentidos de fazer o melhor.

Constatou-se de todos uma qualidade de informação que enaltece a Academia de Medicina da Bahia que vivemos.

Iniciei a reunião chamando a atenção para os números do dia de hoje, da COVID-19, no mundo.

 No dia de hoje.

O quadro é:

                           Total de casos               Mortes

Mundo                  10 332 209                  506 091

EUA                        2 653 539                 128 568

BR                          1 352 708                   57 774

BA                               68 495                      1 748
 

As curvas divulgadas do crescimento da COVID-19 foram explicadas detalhadamente pelo confrade Antonio Alberto Lopes que mostrou sua apresentação exponencial, linear e logarítmica, salientando que países onde o processo se iniciou mais cedo hoje apresentam franco declínio, que no entanto está sujeito a resultados de restrições de conduta social e, quando essas não são bem aplicadas, podem surgir segundas ondas de crescimento como o observado no momento nos EUA, ao contrário da Itália, França e Inglaterra.

No Brasil, onde o inicio da instalação da epidemia ocorreu mais tardiamente, ainda estamos hoje em fase ascendente de crescimento e, donde se depreende a oportunidade, baseando-se na experiência de outros países, para aplicação judiciosa de medidas de isolamento social, de modo a achatar a curva e evitar a segunda onda.

O confrade Mittermayer Reis nos atualizou sobre a situação de vacinas e mostrou que há grandes investimentos na área e o Brasil se insere bem no contexto quando se engaja em alguns desses projetos sendo que num deles, o dos EUA e Oxford, engajará um número  de voluntários brasileiros, garantindo a transferência da tecnologia para a FIOCRUZ, o que disponibilizará a sua produção interna suprindo as necessidades desse pais continental. Espera-se que ao final de 2020 ou inicio de 2021 já se tenha essa vacina.

A confreira Maria Betânia Pereira Toralles trouxe-nos uma detalhada análise dos exames disponíveis e demonstrou um certo entusiasmo pelo RT-LAMP que, mantendo a mesma sensibilidade do RT-PCR, o faz de um modo muito mais rápido, em torno de vinte minutos.

A confreira Luciana Rodrigues Silva chamou a atenção para uma síndrome que se assemelha à doença de Kawasaki, ou síndrome da inflamação multissistêmica da criança, com características às vezes agressiva, exigindo altas doses de ácido acetil salicílico, com alguma ressalva ao emprego de corticoides. Relata a criação de um consortium sulamericano que se propõe ao levantamento desta ocorrência,, liderado pelo Brasil.

A confreira Nubia Mendonça  nos traz um levantamento sobre os dados de casos de crianças em tratamento de neoplasias e COVID-19 na Bahia e ressalta que o mundo demonstra  que a medida mais eficaz no assunto é a de providenciar as medidas restritivas de proteção a essas crianças. Uma vez contaminadas, elas apresentam um risco comparável, face a infecção, ao das crianças previamente hígidas, principalmente se se encontram em fase inicial de indução de quimioterapia para algumas formas hematológicas de neoplasia.

O que foi cabalmente complementado pelo confrade Jorge Bastos, renomado transplantador, alertando para os cuidados que se tem na realização de transplantes no momento, testando o doador sistematicamente à procura do coronavirus. O protocolo de proteção dos pacientes transplantados parece demonstrar bons resultados de proteção a esses pacientes, que geralmente apresentam  uma adesão ainda maior a essas medidas. Ainda assim, constata-se uma considerável redução dos transplantes de órgãos nesse momento, afora o fato de que é desestimulado nesse momento um transplante inter vivos.

Entrando-se nas fases da terapêutica da doença, o confrade emérito Agnaldo David de Souza reforçou o entendimento de que a despeito de que o SARS-CoV-2 penetre nas células endoteliais e outras, via receptor celular ECA2, o uso de inibidores da ECA e os bloqueadores de receptores de angiotensina, frequentemente utilizados com concretos benefícios em hipertensão, insuficiência cardíaca e doença isquêmica do coração, não deverão ser suspensos tendo em vista  que não há comprovação de que sejam maléficos e até na realidade  estudos recentes sugerem que possam ser benéficos nessa condição de COVID.

O acadêmico Jorge Pereira nos trouxe um detalhado e sistemático relato sobre o uso de antitrombóticos nas diversas fases da COVID-19, ressaltando tratar-se de condição reconhecidamente trombogênica onde a tendência de mudança de uso profilático da heparina no paciente internado para anticoagulacão plena na constatação de doença tromboembólica deva prontamente ser assumida. Lembra que alguns temem que o uso de DOACs – os novos anticoagulantes de ação direta- traga a preocupação de interação com muitas das medicações comumente utilizadas nas fases mais complicadas da COVID-19. Lembra que alguns desses pacientes se beneficiam do uso mais prolongado de anticoagulantes após a alta hospitalar, sobretudo aqueles com mais de 70 anos, que sofrerão restrição ao leito ou com história de episódios de tromboembolia no passado.

O acadêmico Edval Fahel nos alerta sobre a diminuição de procedimentos cirúrgicos necessários nessa época, com prejuízos apreciáveis para o paciente como, por exemplo, com o retardamento de procedimentos oncológicos, entre outros. Embora concordando que procedimentos eletivos devam ser adiados na medida do possível.

A confreira Reine Chagas nos informa que uma recente publicação do programa Recovery, que testou  dexametasona (6mg/d por 10 dias) em pacientes internados mostrou significativa redução da mortalidade, em 33% nos casos mais graves, de 20% nos que precisavam de suporte de oxigênio e não apresentou beneficio nos casos mais leves. Chamou a atenção para o aparecimento ou agravamento de hiperglicemia que frequentemente exige o uso de Insulina NPH e também para o surgimento em crianças do DM tipo.

No momento em que se comece a reduzir os novos casos, medidas de progressiva reintrodução de procedimentos hospitalares e ambulatoriais foram detalhados pelo confrade Jadelson Andrade, com ênfase em medidas de proteção dos profissionais de saúde e dos pacientes e acompanhantes, com higienização frequente das mãos, e do meio , limitação de pessoas no ambiente, por exemplo,  em elevadores, e uso de máscaras além de outas medidas.

Em seguida o acadêmico Gilson Feitosa trouxe considerações sobre a possibilidade de complicações tardias da COVID 19, que começam a ser documentadas como tromboses tardias, sequelas pulmonares e, no caso especifico do coração, relatou uma experiência de 26 casos submetidos a ressonância magnética cardíaca cerca de 40 dias após a doença num grupo de sobreviventes da COVID , com idade média de 39 anos, e que, quando internados, tiveram tanto quadros  leves como graves da doença.

Alterações foram  vistas sob a forma de dilatação de ventrículo direito, fibrose e edema miocárdico em cerca de 40% dos casos, trazendo portanto o alerta de que esses pacientes deverão ser cuidadosamente  acompanhados após a alta com cuidados especiais para aqueles que pretendam retormar à prática de atividades físicas mais intensas, sendo recomendável que se sigam as normas vigentes de liberação que se tem para pacientes acometidos por miocardites de outras naturezas.

O acadêmico Irismar Reis de Oliveira prevê que à semelhança do que ocorre em outras situações de estresse e crise problemas relacionados à síndrome do estresse pós-traumático sejam esperados após a COVID-19. Relata que os psiquiatras tomaram a dianteira nesse processo e estão se organizando para viabilização de tratamento mais amplo dessa condição utilizando-se de técnicas existentes inclusive aquela que ele criou com sucesso nacional e internacional da Terapia Cognitiva Processual.

Ao final da sessão fomos brindados pela reflexão poética do confrade Ronaldo Jacobina que em tercetos de grande sensibilidade nos relatou  a coincidência da sua estada em Portugal no início da Pandemia e seu subsequente retorno ao Brasil, trocando o inverno de lá pela reclusão imposta no nosso ambiente tropical. E vê emergirem bons valores de comportamento solidário como possível ganho humanitário em meio ao sofrimento imposto pela perda de tantas vidas nessa COVID-19.

Toda a reunião se procedeu num elevado nível de interesse com a assistência atenta de outros tantos notáveis colegas da Academia, como o Presidente Antonio Carlos Vieira Lopes, e dos confrades e confreiras André Almeida, Antonio Andrade, Antonio Natalino Dantas, Bernardo Galvão, Cesar Araujo Neto, Humberto Campos, Jecé Brandão, Leila Araujo, Licia Moreira , Luiz Freitas, Raymundo Paraná, Reinaldo Martinelli, Sebastião Loureiro, Ubirajara Barroso Jr. entre outros.

Foi uma reunião memorável que demonstra o elevado nível dos que compõem o nosso sodalício.

Acadêmico Gilson Feitosa – Coordenador da reunião.

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