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Tributo ao Professor Roberto Santos – Homem de ciência.

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Excelentíssimo Professor Doutor 
ANTONIO CARLOS VIEIRA LOPES,
Digníssimo Presidente da Academia de Medicina da Bahia

Em sua pessoa cumprimento:

  • os membros da Diretoria.
  • Na pessoa da Confreira Betânia Toralles, ocupante da Cadeira de Número  09, cujo Patrono é o Professor Roberto Santos, cumprimento
  •  nossos Confrades e Confreiras
  • Uma saudação especial aos familiares e pessoas amigas do Professor Roberto Santos
  • Senhoras e Senhores

....................

A honrosa missão de homenagear a memória  do Prof. ROBERTO SANTOS em evento promovido pela ACADEMIA DE MEDICINA DA BAHIA,  permitir-nos relembrar os extraordinários méritos desse Confrade e realimentar nossos espíritos com os exemplos advindos de sua vida

Nascido em 15 de setembro de 1926, filho do Dr. Edgard Rêgo dos Santos e da D. Carmem Figueira Santos, o PROFESSOR ROBERTO SANTOS encontrou na família a fértil sementeira para sua formação moral, humanística e intelectual.

Aos onze anos de idade, já havia montado um laboratório de química no porão de sua residência  com o apoio de sua genitora Dona Carmen Figueira Santos que adquiriu reagentes químicos e vidraria especializada. Nesse laboratório, o menino Roberto realizava as experiências descritas nos livros de textos.

 “Era esta atividade que me dava o maior prazer”
                       (1993, p. 59, Vidas Paralelas, vol. I),
                                assim se referiu, anos depois.

Estava ali, o nascedouro do cientista.

Dona Carmen deve ter pressentido a vocação latente. Apoiar um laboratório de química, no porão da própria residência, para satisfazer a curiosidade de um garoto de onze anos, traduz a premonição de um coração de mãe.

Em 1949, aos vinte e três anos, diplomou-se em Medicina, em nossa secular Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia.

 No ano seguinte, seguiu para os Estados Unidos como Bolsista do American College of Physicians e da Kellogg Foundation iniciando, em um período de dois anos (1950-1953), sólida formação de pesquisador nas tradicionais Universidades de Harward,  de Cornell  e de Michigan.

Ao retornar, em 1953, defendeu, nesse mesmo ano,  em nossa Faculdade de Medicina, sua Tese de Doutor, intitulada “Da Ação de Receptores de Volume na Excreção Urinária de Sódio e Água no Homem”, adquirindo o Título de Doutor em Ciências Médico-Cirúrgicas.

No ano seguinte, 1954, obteve o Título de Livre Docente após submeter-se a concurso de Títulos e Provas defendendo a tese “A Prova da Tolerância à Água nas Hepatopatias Crônicas”.

Dois anos depois, em 1956  foi aprovado em concurso de títulos e provas para o cargo de Professor Catedrático de Clínica Médica desta Faculdade, defendendo a tese intitulada “Da Regulação Renal e Extra-renal do Equilíbrio Ácido Básico”, passando a exercer o cargo de Professor Catedrático em regime de tempo integral e dedicação exclusiva.

Dois fatos merecem destaques neste início de vida acadêmica do PROF. ROBERTO SANTOS;

  • produziu três teses e submeteu-se a dois concursos de títulos e provas entre 1953 e 1956, isso é, no curto tempo de três anos;
  • dedicou-se à vida acadêmica em regime de tempo integral e dedicação exclusiva antes mesmo da institucionalização desse regime de trabalho nas Universidades brasileiras.

Com opção de dedicar-se exclusivamente à vida acadêmica, o Professor ROBERTO SANTOS,  nesse início de vida como Professor de Ensino Superior revelava, na prática, seu apreço, responsabilidade e dedicação exclusiva à Universidade.  Assim, tornou-se notório que a Universidade era a sua vida e, que sua vida dava vida à Universidade.

Seu nome como Professor e Pesquisador, e as pesquisas que passou a desenvolver no sexto andar do Hospital das Clínicas (atualmente denominado Hospital Universitário Prof. Edgard Santos), repercutiam até mesmo entre os calouros do ano 1956.  

Mais mística que hoje, a ciência dos anos cinqüenta imprimia forte distinção aos pesquisadores, em especial àqueles que retornando dos Estados Unidos traziam saberes de fronteira e aqui se dedicavam ao desenvolvimento de pesquisas experimentais. Não apenas o trabalho que aglutinava estudantes e médicos interessados em pesquisa, mas também a eventual presença, no seu laboratório no 6º andar, de grandes nomes da ciência internacional (a exemplos do Dr. Alexander Leaf do Massachussets General Hospital, dos USA, e do Dr. Oliver Wrong, Professor do University College Hospital School of Medicine, da Inglaterra), mas também as ricas discussões científicas que ali ocorriam, definiam o ambiente de ciência que o Professor ROBERTO SANTOS impulsionava no Hospital e na Faculdade.

Para nós estudantes à época, o sexto andar era uma espécie de nirvana da ciência.  E para alguns de nós – o sonho era chegar lá.

A busca por constante atualização científica levou Professor ROBERTO SANTOS de volta aos Estados Unidos em 1961-62, agora como Clinical e Research Fellow, com atividades de pesquisa no Hospital Geral de Massachussets e na Escola de Medicina de Harvard.

Nos primeiros dez anos de atividades científicas aqui, na Faculdade de Medicina, isso é, entre os anos 1953 e 1963, o Professor ROBERTO  e seu grupo publicaram cinco (5) artigos em revistas internacionais do mais alto nível científico: dois (2) artigos no Journal of Clinical Investigation; um (1) no Nature; um (1) no American Journal of Physiology e um (1) no New England Journal of Medicine), além de três (3) outras publicações em revistas nacionais. Tudo isso, como produto de trabalho científico local e espontâneo sem qualquer pressão institucional para publicação, como ocorre nos dias atuais, do “public or perish”..

Sem a miopia intelectual de quem só pensa no que pesquisa, o Professor ROBERTO, desde cedo, revelou a amplitude de suas preocupações acadêmicas dedicando-se também à questão do ensino superior no Brasil e à qualidade da formação médica profissional. Por justiça às suas preocupações, foi, no início dos anos sessenta, nomeado e, mais tarde, reconduzido Membro do Conselho Federal de Educação.

Em 1960, antes de ser indicado Membro do Conselho Federal de Educação, realizou em Hamburgo, na Alemanha, perante a Associação Médico Biológica Germano-Ibero-Americana, conferência intitulada “Pontos Críticos na Educação Médica”.  Nos anos seguintes sua preocupação sobre a qualidade do ensino médico ficou documentada na publicação de vários artigos em revistas nacionais e internacionais sobre o tema da educação médica, acrescida da realização de uma série de conferências no Brasil e no exterior das quais destacamos algumas.

  • Em 1969, a palestra intitulada, “Changing Patterns of Medical Education in Brazil” realizada em Bellagio, Itália, no congresso internacional sobre O Futuro da Educação Médica. Essa palestra tornou-as capítulo de um livro publicado nos Estados Unidos editora The Johns Hopkins Press, em 1971.
  • Em 1968, seu artigo intitulado “O Ensino Médico e a Reforma da Universidade Brasileira”, inicialmente publicado no Brasil na Revista Documenta, tornou-se também capítulo de livro internacional intitulado “Portugal and Brazil in Transition” publicado pela editora Minnesota Press, em 1968.
  • Em 1963, no VII Congresso Internacional de Medicina nos Trópicos, proferiu a conferência intitulada “Educação Médica nos Trópicos”
  • Em 1968, na VI Reunião da Associação Brasileira de Escolas Médicas proferiu discurso com o seguinte título: “Em favor do Planejamento do ensino Médico no Brasil”, o qual fora posteriormente publicado nos Anais dessa reunião.
  • Em 1966, publicou, na Revista Documenta um artigo intitulado “Planejamento didático nas Faculdades de Medicina”. O título desse artigo, e de vários outros, revela o quanto havia na pessoa do Professor ROBERTO SANTOS o comprometimento com a questão do ensino médico no Brasil, compromisso esse que não se diluía em considerações teóricas, mas que se concretizava em propostas efetivas de mudanças.
  • Nos anos 1966 – 1968 foi Presidente da Associação Brasileira de Escolas Médicas (hoje Associação Brasileira de Educação Médica – ABEM).

É oportuno relembrar que, no início dos anos sessenta, o ensino médico ficava sob a absoluta e independente responsabilidade das Cátedras e era ministrado nas diversas Clínicas Médicas (1ª., 2ª., 3ª. e 4ª), e nas Clínicas Propedêutica e Terapêutica. A absoluta independência institucional das Cátedras repercutia no ensino médico que era ministrado sem qualquer articulação entre os diversos programas das disciplinas.

O Prof. ROBERTO SANTOS foi pioneiro em procurar estabelecer um programa de ensino integrado entre as diversas Clínicas.

Apresentou sua proposta inovadora no 1º Congresso sobre Ensino de Clínica Médica no Brasil, em 1961. Fiel a seu espírito acadêmico, antes de sua apresentação no referido Congresso, fez uma pesquisa enviando, por correio, questionário específico a todas as Faculdades de Medicina existentes no país. Diferentemente da atualidade, praticamente todas responderam, também por correio comum, indicando seu tipo de funcionamento em relação a número de leitos, período de permanência de pacientes, etc.

Pouco tempo depois,  estimuladas pelo Prof. ROBERTO SANTOS as diversas especialidades médicas e cirúrgicas também se aproximaram visando a integração do ensino médico como um  programa unificado e coerente.

Em 1967, Professor ROBERTO SANTOS foi indicado Reitor da Universidade Federal da Bahia. Seu discurso de posse, em 4 de julho, foi publicado no Boletim Informativo dessa instituição neste mesmo mês e ano.. No exercício do cargo de Reitor percebeu a importância da implantação da Reforma Universitária no país e colocou a UFBA como carro chefe nacional dessa transformação.

Qualquer reforma institucional é desafiante e essa não fora diferente. A Bahia tem o privilégio de ser a célula mater do ensino superior no Brasil, fato que nos enaltece, mas que também consolida visões com raízes  no passado conservador  e resistente a mudanças.

Com competência, equilíbrio, e compreensão o então Reitor da UFBA implantou mudanças que aos poucos também se consolidaram em outros Estados.

Ao final do mandato de Reitor,  em 1971, a UFBA havia mudado, não apenas em sua estrutura física com a construção de novos prédios para abrigar os inovadores institutos básicos, mas, principalmente, na forma de pensar, planejar e oferecer o ensino universitário.

Ainda estava no exercício do cargo de Reitor da UFBA quando foi indicado, em 1969, Membro da Comissão Diretora do Conselho de Educação Superior das Repúblicas Americanas, órgão vinculado ao instituto Internacional de Educação, sediado em Nova York.

Em 1970, foi eleito Membro da Academia de Letras da Bahia.

A amplitude de visão do Professor ROBERTO  não se limitou às questões acadêmicas de pesquisas e ensino médico, mas também se aprofundou nas questões da saúde em geral.

Em 1967 publicou artigo intitulado “Responsabilidade das Universidades no Desenvolvimento da Política de Saúde”. Nesse mesmo ano fora indicado Secretário de Saúde do Estado da Bahia, cargo que interrompera para assumir a Reitoria da UFBA.

Após o cumprimento do cargo de Reitor, em 1971 o Professor ROBERTO SANTOS foi eleito Presidente do Conselho Federal de Educação e novamente re-eleito em 1974.

Entre os anos 1973 e 1974 escreveu e publicou dois livros:

 a) “A Universidade e os Novos Propósitos da Sociedade Brasileira”  Editora da UFBA. 1973;

 b) “Ensino Médico e Assistência à Saúde” Editora da UFBA, 1974.

A partir de 1974 os compromissos do Professor ROBERTO SANTOS transcenderam a área da Educação. Eleito pela Assembléia Legislativa tomou posse no cargo de Governador do Estado da Bahia em 15 de março de 1975 completando o mandato em 1979. Dentre as várias realizações como Governador, duas delas merecem destaque no presente momento:

  • A criação do Museu Didático de Ciência e Tecnologia, exatamente  no período que o Estado da Bahia vivia sua transição da economia agrícola para a industrial. Marcado por lamentável história de abandono, o referido Museu tornou-se, agora,  causa de forte movimento das sociedades científicas  e academias de ciências, inclusive da nossa ACADEMIA DE MEDICINA DA BAHIA no sentido de sua  reativação  sob a denominação de MUSEU DE CIENCIA  E TECNOLOGIA PROFESSOR ROBERTO SANTOS.
  • Outro destaque foi a criação dos Centros Sociais Urbanos, em número de 33, espalhados pelas diversas regiões do Estado. Na identificação das atividades desses centros, as respectivas comunidades eram ouvidas e respeitadas suas preferências. Ainda hoje, ao transitar pela BR 116 Norte, saindo de Feira de Santana, impressiona a qualquer um a dimensão e a estrutura do Centro Social Urbano que ali fora implantado.
  • Sem esquecer a criação do Hospital Roberto Santos, em atividade nos dias atuais, e do Centro de Convenções desativado por falta de conservação.

Com o término do mandato de Governador do Estado da Bahia, o PROFESSOR ROBERTO SANTOS, em atitude de extraordinária grandeza pessoal e respeito ao ensino, retornou à Universidade,  reassumindo sua posição de Professor, voltando ao seu tradicional “habitat”, o 6º. Andar do Hospital, ministrando aulas de Pedagogia Médica no curso de Mestrado em Medicina, participando de discussões científicas, aprofundando suas reflexões sobre educação médica, produzindo um trabalho sobre o tema e o apresentando no Congresso da Associação Brasileira de Ensino Médico.

Nem todos que presenciaram essa nobre atitude souberam reconhecer-lhe o mérito e as lições de dignidade nela contidas. A tradição à época era que os ex-ocupantes de cargos executivos se juntassem a gabinetes de amigos no exercício do poder.

PROFESSOR ROBERTO SANTOS foi exceção.

Tivemos, nessa época, a grande honra de, no 6º andar, do Hospital das Clínicas, compartilhar  com o Professor a mesma sala que fora usada por ele no passado, e mais uma vez continuamos sendo sua aluna, aprendendo a cada momento que o ouvia falar sobre ciência, educação, saúde,  política, etc. Vendo-o em atividade docente, após ter sido Governador, parecia-me ver também a concretização do pensamento de Fernando Pessoa: ‘Tudo vale a pena, quando alma não é pequena”.

Completado seu tempo de magistério o PROFESSOR requereu  aposentadoria no efetivo exercício do cargo de Professor Titular da Faculdade de Medicina da UFBA, mesmo após ter exercido o cargo de Governador de Estado.

Alguns anos depois, em 1985, o Professor ROBERTO SANTOS foi indicado Presidente do CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico. Exerceu o cargo por cerca de um ano, por ter sido indicado Ministro da Saúde, tomando posse em 1986. Nesse mesmo ano apoiou e presidiu a realização da memorável 8ª. Conferência Nacional de Saúde, evento que se tornou um marco na história da saúde pública no país. Nela implantou-se a idéia de “saúde direito de todos” que, mais tarde, em 1988, foi legitimado pela nova Constituição Federal.

Como Ministro da Saúde, no período de 1986/87 chefiou as Delegações Brasileiras na 39ª Assembléia Mundial de Saúde e na 32ª Conferência Sanitária Pan-Americana.  Nesse mesmo ano, foi indicado membro do Comitê Regional da Organização Mundial de Saúde para as Américas, e no período de 1987/1990 foi representante do Brasil no conselho Diretor da Organização Mundial de Saúde, em Genebra, Suíça.

Ao longo dos anos, o Professor ROBERTO SANTOS, pelos altos cargos que ocupara, tornara-se também participante da vida política da nação. Assim, em 1994 foi eleito Deputado Federal pelo Estado da Bahia, exercendo o cargo até o final do mandato em 1999. Em sua atividade legislativa, fiel a seu perfil de pesquisador e educador, foi Membro da Comissão de Ciência e Tecnologia e participou do grupo de trabalho que, efetivando a idéia de Tancredo Neves, criou o Ministério de Ciência e Tecnologia. Ao final de seu mandato, optou por não se re-candidatar.

Desde 1995, por nomeação do Presidente da República, tornou-se membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia com mandato até 2002, o qual fora renovado por nova recondução até 2005.

Em 2003 foi eleito Coordenador da Comissão de Desenvolvimento Regional e Inclusão Social do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia.

Em 2000, aqui na Bahia, fora eleito Membro da nossa Academia de Medicina, e em 2004, eleito Membro da Academia de Educação da Bahia tornado-se Presidente desta última nesse mesmo ano.

A vida deu-lhe o grande presente de ser filho do Reitor Edgar Santos, o grande educador que idealizou, fundou, moldou e promoveu a Universidade Federal da Bahia. Impossível separar essas duas vidas, não apenas pelos laços biológicos, mas, principalmente, pela formação intelectual, pelo espírito empreendedor e pela paixão pela educação. Assim, PROFESSOR ROBERTO não permitiu que a memória dessas vidas se perdesse no tempo e em 1993, escreveu o livro “Vidas Paralelas” publicado pela Editora da UFBA.

Também, no sentido de preservar a história de fatos, o Professor escreveu outro livro intitulado “Um Mandato Parlamentar a Serviço das Causas Sociais” publicado pela Câmara dos Deputados, em 1998.  Mais recentemente, em 2005, escreveu o livro intitulado “Reflexões Sobre Temas da Atualidade” publicado pela Editora da Universidade Federal da Bahia.

Pouco tempo depois,  no dia que recebe o  Título de Professor Emérito da Faculdade de Medicina da UFBA autografou o livro intitulado “Na Bahia da segunda metade do século XX”.  Nesse livro, o PROFESSOR relata, sob seu próprio olhar, como foi a Bahia nesse período.

O impacto social da vida de Professor ROBERTO SANTOS está bem traduzido nas dezessete (17) condecorações que recebeu entre 1971 e 1998.

  • Ordem do Mérito Educacional da Bahia - 1971.
  • Ordem Nacional do Mérito Educativo, no Grau de Grande Oficial. 1971.
  • Ordem de Rio Branco, no Grau de Comendador, ministério das Relações Exteriores. 1972.
  • Mérito Educacional da Ordem do Mérito Judiciário do Trabalho, Grã-Cruz. 1975.
  • Ordem do Infante D. Henrique, Portugal, Grã-Cruz. 1976.
  • Ordem do Mérito Aeronáutico, no Grau de Grande oficial, ministério da Aeronáutica. 1976.
  • Ordem do Mérito da Liga Contra o Câncer, no Grau de Comendador. 1977.
  • Ordem do Mérito civil da Espanha, no Grau de Comendador. 1978.
  • Colar da Ordem do Mérito da Bahia. 1978.
  • Ordem do Mérito Civil da França, no Grau de Grande oficial. 1978.
  • Ordem do Mérito Superior do Trabalho. 1978.
  • Ordem do Mérito do Instituto Butantã. 1986.
  • Ordem de Rio Branco, Grã-Cruz, Ministério das Relações Exteriores. 1986.
  • Ordem do Mérito das Forças Armadas, no Grau de Grão-Mestre, EMFA. 1986.
  • Ordem da Inconfidência Mineira. 1986.
  • Medalha de Mérito Tamandaré. Ministério da Marinha. 1997.
  • Ordem do Mérito Naval, no Grau de Grande oficial. Ministério da Marinha. 1998.

Gostariamos de mencionar, um pouco do que, na condição de aluna da  Faculdade de Medicina da Bahia, entre os anos de 1956 e 1961, tivemos a grata oportunidade de presenciar.

Desde que entramos nesta Faculdade, ouviamos comentar-se que no 6º. Andar do Hospital trabalhava um cientista.  Quando começamos a freqüentar o Hospital, no 3º ano do curso médico, optamos por estagiar na 2ª. Clínica Médica, enfermaria chefiada por esse cientista. Começamos a participar das reuniões para discussão de casos clínicos, realizadas na própria enfermaria, das várias reuniões científicas que compunham o Programa de Residência Médica, programa criado pelo próprio PROFESSOR ROBERTO SANTOS. Hoje, relembrando essas reuniões reconheço o alto nível científico das mesmas.

Testemunhamos, à época, o grande interesse do PROFESSOR  em consegui bolsas para vários médicos-residentes completarem sua formação científica nos Estados Unidos. Conhecemos o funcionamento do NUMEX, Núcleo de Medicina Experimental, criado e dirigido por ele com laboratórios de pesquisa no 6º andar e biotério (canil), no subsolo do Hospital das Clínicas.

Identificamos, na atualidade, mais de uma geração de pesquisadores brasileiros cuja iniciação em ciência ocorreu, direta ou indiretamente, relacionada ao PROFESSOR

Pessoalmente, devemos nosso inicio de formação científica, concretizada em Bolsa de Iniciação Cientifica do CNPq, ao grande Mestre PROFESSOR ROBERTO SANTOS de quem recebemos autêntico estímulo á vida acadêmica. Tê-lo como nosso mentor científico foi o eixo central de toda nossa vida acadêmica.

As pessoas próximas ao PROFESSOR ROBERTO conheciam seu amor pela ciência. Mesmo no exercício do cargo de governador dirigia a conversa para a pesquisa quando encontrava um de seus orientandos do Hospital das Clínicas.  Em 1975, em um desses encontros, comunicamo-lhe que em breve estaríamos nos submetendo a concurso de títulos e provas para o cargo de professora titular de genética médica. Sua reação foi imediata: “Quero fazer parte da banca”.

Em outubro do mesmo ano, comparecendo pontualmente, lá estava o governador ROBERTO SANTOS presente em todas as provas do nosso concurso: didática, escrita, defesa de tese e respectivos sorteios de pontos.

Desconhecemos história semelhante: um governador, em exercício de mandato, dispor-se a compor uma comissão examinadora de concurso público para a carreira docente de ensino superior. Tão grande quanto a alegria de nos tornar professora titular de nossa faculdade, foi a honra de tê-lo compondo nossa banca examinadora.

O amor pela ciência nunca o deixou. Até parece, que outros cargos ocupados em sua vida ficaram apenas no registro da memória. Mas, a ciência, não. Esta chegou, estacionou na mente e fincou raízes no coração. E ai continuou crescendo e dando frutos.

Eis a prova.

Em 2010, aos 84 anos, idealizou, criou, regulamentou e deu vida plena a Academia de Ciência da Bahia (ACB). Agregou pesquisadores tradicionais e novatos, contou, principalmente, com a colaboração de seu fiel amigo Professor Doutor Edivaldo Machado Boaventura, natural de Feira de Santana.

Agregando cinqüenta e três membros titulares fundadores, a Academia de Ciências da Bahia foi solenemente instalada no auditório da Federação de Indústria do Estado da Bahia, FIEB, em 1º de junho de 2010, com as honrosas presenças do Governador do Estado, do Presidente da Assembléia Legislativa e do Presidente da FIEB.

Ao compor a primeira diretoria dessa Academia, o PROFESSOR ROBERTO convidou sua aluna de sempre. Fiz-lhe uma proposta: estaria disposta a contribuir com entusiasmo e trabalho, mas... sem ser membro oficial em qualquer posição administrativa, pois, há algum tempo, vinha fazendo a “experiência do não ser”, e estava feliz. E assim concordamos: “sendo sem ser”. Mais uma vez trabalhamos juntos durante vários anos.

Ganhou a Bahia uma Academia de Ciências. Ganharam os pesquisadores um estimulante local de encontro, não apenas entre apreciadores da tradicional ciência experimental, mas também de pesquisadores em filosofia, educação, artes e cultura em geral.

Nasceu assim, uma Academia moderna, aberta aos diversos atores produtores do conhecimento e liberta da tradicional amarra do número 40, isso é, de manter apenas 40 membros em seus quadros, como rezava a tradição

Gostariamos de conclui com ROBERTO SANTOS em família.

Dos 9 aos 17 anos o jovem Roberto  aprendeu a tocar piano. Cumpriu todas as exigências do curso, concluindo-o com o diploma de pianista.

Na juventude, e já Professor Universitário, sua condição de solteiro despertava, até mesmo nas colunas sociais, especulações sobre candidatas a seu futuro matrimonial. 

No início dos anos sessenta, a universitária, estudante de Nutrição, Maria Amélia Silva de Souza Meneses despertara seu interesse.  A paixão por esta bela estudante não inibiu a avaliação intelectual: “olhou a prova dela antes de declarar seu amor,” confessou-nos posteriormente.

Casaram-se em 26 de junho de 1963, em cerimônia simples, na casa da noiva, com as presenças, apenas, das duas famílias.

Comentou-se que o PROFESSOR ROBERTO não deixou de ir trabalhar no Hospital nem mesmo no dia do casamento.

Maria Amélia sabiamente soube conciliar, em sólida felicidade, a paixão do Professor por ela e pelo trabalho.

Os seis filhos Anelise, Cristiana, Edgard, Maria Carmen,  Roberto e Patrícia, deram-lhes nove netos Pedro Henrique, Elisa, Rafael, Orlando, Sofia, duas (2) por nome Helena, Gabriel e Luiza,  completando, assim, a felicidade do casal.

O amor e o apoio recebidos de sua família foram promotores do sucesso de vida do PROFESSOR ROBERTO SANTOS, em sua fiel avaliação.

Finalmente, entre pessoas amigas PROFESSOR ROBERTO sabia priorizar as amizades independentemente dos altos cargos ocupados. Sua conversa era sempre atenciosa, calma, rica em palavras pensadas e bem colocadas. Nunca  depreciava pessoas nem maculava sua fala com palavras não civilizadas.

Era educado e gentil.

Deixou rica memória não apenas do que fez, mas, principalmente, do exemplo de uma vida ética, honrada, respeitada e admirada por muitos.. 

Muito obrigada.

Eliane  Azevedo – Membro Emérito da Academia de Medicina da Bahia.

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