Academia de Medicina da Bahia Scientia Nobilitat

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Gilson Soares Feitosa <br> Membro Emérito
Gilson Soares Feitosa
Membro Emérito
Ocupante Anterior - Cadeira 36
08/08/2025
20:00
Discurso de saudação a Academia de Medicina da Bahia - Emérito Gilson Soares Feitosa

Discurso de saudação em comemoração ao Sexagésimo Sétimo  aniversário de fundação da Academia de Medicina da Bahia, proferido pelo Acadêmico, Membro Emérito  da Academia de Medicina da Bahia, Gilson Soares Feitosa, em solenidade ocorrida na Associação Baiana de Medicina.

Excelentíssimo Presidente Professor Doutor
Cesar Augusto de Araujo Neto
Distintos Membros da Diretoria
Ilustres Confrades e Confreiras

Quando solicitado pelo nosso Presidente, o confrade Cesar Augusto de Araujo Neto,  em nome da diretoria da AMBA,  para fazer o tributo, isté,  a homenagem à Academia de Medicina da Bahia como reconhecimento de seu valor e sua importância,  por ocasião do seu sexagésimo sétimo aniversário, senti-me muito honrado e penhoradamente enaltecido pelo convite. 

Permitam-me que dedique este momento à memória do prezado confrade Jorge Pereira, que recentemente, precocemente, materialmente,  nos deixou, mas que nos fez o legado de profundo significado ético em sua competente trajetória de médico, professor e Acadêmico. 

Nas vezes anteriores em que esse tributo à Academia de Medicna da Bahia  foi feito pelos  ilustres colegas deste sodalício, o Professor Geraldo Leite,  a Professora Eliane Azevedo e o Professor Luiz Freitas, fomos instruídos, ilustrados, pelos ensinamentos de que “as pessoas atraídas pelo saber perceberam cedo a importância de criação de Academias” .

Reforçamos o conhecimento de que   Academias de Medicina iniciaram-se em 1820 pela Academia de Medicina de Paris  -  por sua vez oriunda da Academia de Ciências do Vaticano de 1603, e, em 1661,  da Royal Society of London for Improving Natural Science-  motivando no Brasil a criação da  Academia Nacional de Medina em 1829.

Aprendemos também que, às 10 horas de 10 de julho de 1958, na sala Clementino Fraga do Hospital Santa Izabel, Jayme de Sá Menezes  proferiu as seguintes palavras: “a  Bahia, Província Primaz do Brasil, berço da Pátria, da Cultura e da Medicina nacional, não poderia prescindir por mais tempo de sua Academia de Medicina, órgão cultural por excelência, aglutinador de valores, estimulador de ideias, disposto a congregar, numa confraria douta e liberal, sem elitismo mas ciente de suas responsabilidades, as expressões maiores da cultura médica baiana” e com 26 notáveis médicos da época fundaram a Academia de Medicina da Bahia.

Àquela época o mundo acadêmico médico em geral recebia forte influência da Academia Francesa de Medicina.

Mas sendo oriunda das Academias de Ciência e tendo em vista o enorme impulso cientifico trazido ao mundo pela sociedade americana, passou também a nossa Academia de Medicina da Bahia a receber forte influencia dos Estados Unidos. 

A Academia de Medicina forma,  com as Academias de Ciências Naturais e de Engenharia, o maior esteio acadêmico dos Estados Unidos.

Conquanto que apresente  uma conotação diferente da nossa, pois  fundada em 1970,  sob o nome de Institute of Medicine,  somente em 2015 chamou-se  de National Academy of Medicine como uma entidade independente do Governo dos EUA, recebendo  forte financiamento do National Institute of Health (NIH), e de fundações privadas,  cabendo-lhe a tarefa de dar respostas a questões de saúde populacional, cuidados médicos e avanços tecnológicos . 

Já são mais de 2400 integrantes sendo que a cada ano 90 figuras de destaque nacional e 10 internacionais são convidados para esse trabalho voluntário, mas que distingue seus membros  como no topo do reconhecimento médico.

Observe-se que  mesmo com uma conformação e propósito distinto e próprio, o peso do que emana das ações da Academia de Medicina Americana via norteamento das pesquisas de ponta, por meio do National Institute of Health (NIH), sua decisiva influência nos órgãos reguladores, como o FDA e na formação médica  influencia claramente  

o pensamento médico brasileiro e da nossa Academia, fato que   é facilmente apreciável.  Até meados do século passado nossos destacados professores de medicina completavam sua formação na Europa-  na Alemanha, Reino Unido, Portugal,   Italia  e, principalmente, na França.

A partir dos anos 60 do século passado isso se reverte em direção aos Estados Unidos.

Na nossa Academia de Medicina da Bahia , por exemplo,  a imensa maioria de confrades teve sua pós-graduação, ou parte dela, cumprida em Instituições americanas que de alguma forma respondem aos ditames da Academia de Medicina dos Estados Unidos. 

É forçoso perceber no entanto que a despeito de acolhermos com muito bom grado os avanços dai advindos valores nacionais devem ser adequados a essas aplicações, conferindo-lhes, onde se perceber que este   principio assim se aplica,  não ceder a tentação de simplesmente copiar.

Dessa forma, não tendo ainda  os sobejos recursos da Academia Americana  os moldes da nossa Academia de Medicina da Bahia ainda se assemelham aos da Europa em muitos aspectos. 

Por exemplo,  na Academia de Medicina da Bahia totalizamos 50 membros entre os titulares e mais 10 Membros Emeritos- que tendo mais de 75 anos de idade e sendo Membro Titular por 10 ou mais anos,  receberam tal reconhecimento por parte dos seus pares-  alem de 4 membros honorários.

Conquanto se trate de uma sociedade mantida , para suas despesas , à custa da anuidade dos seus associados, empreende , ainda assim, um ingente esforço de fidelidade aos princípios que a criaram, nas palavras de seu fundador, Jayme de Sá Menezes. 

Firmou-se decididamente neste propósito como resultado do esforço de todos,  desde momentos mais difíceis no passado em que figuras como os confrades Presidentes Alberto Serravale e Elsimar Coutinho,   aportaram recursos próprios para garantir sua existência,  e, notadamente nos últimos tempos, com os presidentes Maria Thereza de Medeiros Pacheco, Thomaz Rodrigues da Cruz, Almerio Machado, Antonio Carlos Vieira Lopes e, presentemente, o confrade  Cesar Augusto de Araujo Neto, em que, cada um e a seu modo, abriram os horizontes da Academia de Medicina da Bahia, .

As diretorias têm sido consistentes e os comitês das ultimas gestões -  O Científico: coordenado pelo confrade Otávio Henrique Coelho Messeder;  o de Ensino Médico e Assuntos Estudantis  coordenado pelo  confrade  Washington Luís Conrado dos Santos e o de   Saúde Pública coordenado pelo confrade Mitermayer Galvão dos Reis,  tem proporcionado sessões esclarecedoras, motivadoras e abertas ao publico.

Note-se o elogiável rigor destas sessões de grande pontualidade, em que o cumprimento à altura de um rigoroso ritual formal de apresentação da sequencia de apresentações , com a devida lhaneza de trato dos que conduzem a sessão, nos remonta a princípios perenes  de uma reunião de elevado nível.

A representação distinta, altamente qualificada do nosso sodalício, onde despontam figuras de destaque em várias áreas de ação, notadamente na esfera cientifica,-tanto a investigativa quanto    a aplicada-  assim como no campo da saúde publica, do ensino médico,  da espiritualidade e da política, que concorrem com assiduidade a essas reuniões, impede que apenas o deleite dessas reuniões prevaleça em nossos espíritos. 

Como resultado disso materializa-se a constatação de que nos cumpre ir cada vez mais longe no alcance de nossas ações. 

Com o continuar dessas haveremos forçosamente de ser reconhecidos pelo público, entidades médicas e pelas autoridades constituídas, como uma voz representativa, responsável,  alheia a partidarismos menores e a quem se deve ouvir com atenção.

A mentes tão privilegiadas acometem varias linhas de ação oportuna onde tais pensamentos  podem impulsionar o desenvolvimento. 

Destaco como de sobremaneira importância no exato momento em que vivemos essa constatação algo que  se afigura como de um enorme desafio a ser identificado, analisado e convenientemente enfrentado  o da desmesurada proliferação das escolas médicas no país.

Um olhar eivado de conotações politicas equivocadas e, notadamente,  recheado de interesses pecuniários escusos,  nos trouxeram a uma situação impensável de proliferação de escolas médicas, muitas delas sem mínimas condições de atuação  docente, sem seleção discente adequada e sem apropriado  campo de prática.

William Osler no século passado já nos ensinava  que “ "He who studies medicine without books sails an uncharted sea, but he who studies medicine without patients does not go to sea at all". 

Imaginem sem timoneiros!

São no momento cerca de 400 escolas já autorizadas, na maioria privadas,  com ameaça de se atingir o número de 682 por força judicial.

78% dos municípios que sediam escolas médicas não possuem a infraestrutura adequada segundo levantamento do Conselho Federal de Medicina .

Certamente que com a reconhecida propriedade de pensamento que se registra no nosso egrégio sodalício, haveremos de ver sua opinião como das que se unem a outras apontando para exigências restritivas a essas ações e que apontem para os rumos desejáveis.

Como assinalado em editorial da British Medical Journal :” Activists have played a major role in highlighting inequity; academic medicine has not, but should.”

Que esta seja, entre outras oportunidades de contribuição,  um dos polos definidores da nossa ação cidadã para com a realidade que vivemos,  em beneficio da população, dos médicos, dos profissionais da saúde e individualmente, nossa razão maior de existir, o ser humano alvo da nossa atenção.

Temos  desejavelmente caminhado sobre os ombros dos que fazem a ciência, mas a Medicina continua como uma arte e no dizer de Henry Thomaz Buckle, "Entre as artes, a medicina, por sua utilidade eminente, deve sempre ocupar o lugar mais alto."

E, complementaria, também com um importante papel social.

A Academia de Medicina da Bahia estará assim  cada vez mais cumprindo a sua parte.

Muito obrigado.

Academia de Medicina da Bahia
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