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Boa noite a todas e a todos.
Gostaria de saudar os componentes da mesa:
1- Meu colega, Professor César Araújo, Presidente da Academia de Medicina da Bahia
2- Minha colega, Alda Cruz, Vice-Presidente de Pesquisas e Coleções Biológicas da Fundação Oswaldo e em nome deles saudar os demais componentes da mesa,
3- Gostaria ainda de saudar a família do Confrade Bernardo Galvão Castro Filho. Sua esposa e companheira, Ana Maria Silva Galvão Castro; a filha Ana Karina Galvão Barroso e seu esposo Anderson Souza Barroso, os netos, Thiago Galvão Barroso, Bernardo Galvão Barroso, Fernando Galvão Barroso; a filha Ana Verena Galvão Figueiredo e esposo Tony Valerio dos Santos Figueiredo e a neta Ana Clara Galvão Phileto em nome dos quais saúdo todas e todos presentes.
É com elevada honra e profundo privilégio que me cabe apresentar, nesta noite solene, o Confrade Emérito, Professor Doutor Bernardo Galvão Castro Filho, agraciado com a Honra do Mérito Científico distinção que, anualmente, é concedida pela Academia de Medicina da Bahia a personalidades que engrandecem a ciência e a medicina com suas trajetórias exemplares.
Natural de Salvador, nascido em 30 de maio de 1945, o Professor Bernardo Galvão realizou sua formação básica no Colégio Bernardo Galvão, fundado e dirigido por seu pai, e posteriormente no tradicional Colégio Central da Bahia. Graduou-se em Medicina pela Universidade Federal da Bahia, em 1969, e concluiu residência médica em Patologia Humana no Hospital Professor Edgard Santos entre 1970 e 1971.
Iniciou sua carreira docente em 1972, lecionando Patologia na Universidade de Brasília. Prosseguiu sua formação acadêmica com mestrado em Patologia Humana pela UFBA (1973–1974) e, posteriormente, doutorado em Medicina, com ênfase em Imunopatologia, pela Universidade de Genebra, na Suíça (1974–1977). Sua tese sobre a resposta imune na tripanossomose africana foi reconhecida internacionalmente, com três publicações científicas e o prêmio Ettiénne Gorjux, concedido à melhor tese de doutorado daquele ano.
Ao retornar ao Brasil, em dezembro de 1977, ingressou na Fundação Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, como pesquisador. Entre 1980 e 1984, coordenou o primeiro projeto de reforço institucional da América Latina financiado pela Organização Mundial da Saúde, cujo objetivo era a implantação do Centro de Imunologia Parasitária. Esse projeto não apenas consolidou o futuro Departamento de Imunologia do Instituto Oswaldo Cruz, como também atraiu uma geração de jovens cientistas — entre eles os saudosos Lain Pontes de Carvalho, Cláudio Ribeiro, Mariza Morgado, Wilson Savino e tantos outros que hoje ocupam lugar de destaque na ciência nacional e internacional.
Com a epidemia de HIV/Aids, em 1982, o Dr. Galvão demonstrou notável sensibilidade ao contexto social brasileiro e liderança científica ao conduzir pesquisas pioneiras sobre o vírus. Sua equipe foi responsável pelo primeiro isolamento do HIV na América Latina, contribuindo de forma decisiva para o diagnóstico precoce, controle da transmissão sanguínea e criação da Rede Nacional de Isolamento do HIV. Estas ações projetaram a Fiocruz como protagonista na resposta à epidemia.
Em 1988, retornou a Salvador para fundar o Laboratório Avançado de Saúde Pública (LASP) no Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz, com apoio da Fundação Banco do Brasil. O projeto “Isolamento e Caracterização do HIV no Brasil” marcou a descentralização das ações da Fiocruz, com forte impacto na saúde pública, especialmente nas regiões Norte e Nordeste.
Entre suas contribuições institucionais na Fiocruz Bahia, destacam-se sua atuação como coordenador do Programa de Iniciação Científica, Vice-Diretor de Ensino e membro do Conselho Deliberativo da Instituição.
A partir dos anos 2000, voltou seu olhar científico e humano para o estudo do HTLV, um retrovírus silencioso, negligenciado e altamente prevalente em Salvador, afetando principalmente mulheres negras, com menor renda e escolaridade. Ao identificar que cerca de 2% da população soteropolitana estava infectada, idealizou e implantou, em 2002, o Centro Integrado de HTLV (CHTLV), fruto da parceria entre a Fiocruz e a Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública (EBMSP). O CHTLV se tornou referência nacional, oferecendo atendimento multiprofissional, suporte social, produção científica de excelência e indução de políticas públicas pioneiras, como a testagem universal de gestantes e a Linha de Cuidado Integral para Pessoas Vivendo com HTLV na Bahia.
Graças à sua liderança, a Bahia tornou-se referência nacional no enfrentamento ao HTLV. E, em fevereiro de 2025, a CONITEC incluiu a testagem universal de gestantes para HTLV em todo o território nacional, contribuindo para a meta de eliminação da transmissão vertical até 2030, no âmbito do Programa Brasil Saudável.
Mas o Confrade Bernardo Galvão transcende o papel de cientista. É, acima de tudo, formador de pessoas, animador de gerações, alguém que inspira e impulsiona com generosidade, escuta atenta e compromisso ético. Professor Titular da EBMSP desde 1992, teve papel fundamental na reestruturação curricular do curso de Medicina e na capacitação docente. Foi um dos idealizadores e fundadores do Programa de Pós-Graduação em Medicina e Saúde Humana, criado no ano 2000, ao lado dos estimados Dr. Carlos Marcílio, Dr. Lain Pontes e Dr. Armênio Guimarães.
Esse programa, inicialmente voltado à formação de docentes da EBMSP, foi ampliado em 2005 para outras áreas da saúde e segue sólido, sob a liderança da Professora Ana Marice Ladeia. Nessa pós-graduação, o Dr. Galvão vai muito além da orientação acadêmica: ele ensina sobre ética, empatia, colaboração e compromisso com o Sistema Único de Saúde.
Atualmente, é Professor Titular da EBMSP, Coordenador do Centro de Neurociências e do Centro Integrativo Multidisciplinar de HTLV, bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq (nível sênior), Pesquisador Emérito da Fiocruz, membro emérito desta Academia de Medicina da Bahia, membro fundador da Academia de Ciências da Bahia, membro titular da Academia Brasileira de Ciências, membro correspondente da Academia Nacional de Medicina, e integra o Comitê Gestor do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia em Neuroimunomodulação (INCT-NIM). Integra ainda o Conselho Curador da Fundação José Silveira e a Assembleia do Instituto Brasileiro de Oftalmologia e Prevenção da Cegueira.
Sua vasta produção científica inclui 263 artigos publicados, 34 dissertações de mestrado e 23 teses de doutorado orientadas, sendo reconhecido como o pesquisador mais produtivo da América Latina na área de HTLV.
Dentre os muitos reconhecimentos recebidos, destacam-se:
Cumpre destacar, por fim, sua atuação como entusiasta da vida acadêmica baiana, incentivando e apoiando a indicação de colegas e jovens cientistas a integrar as Academias de Medicina e de Ciências da Bahia e a Academia Brasileira de Ciências, contribuindo para o fortalecimento institucional e científico do nosso estado.
Concluo esta apresentação reafirmando que esta honraria, agora concedida ao Confrade, colega e amigo Bernardo Galvão Castro Filho, representa não apenas um justo reconhecimento de sua trajetória como médico, cientista e educador, mas também uma homenagem ao cidadão íntegro, comprometido com a inclusão social, a redução das desigualdades, a justiça social e a melhoria da vida de todos os brasileiros.
Por tudo o que realizou — e continua a realizar — Bernardo Galvão é motivo de orgulho para sua família, seus colegas, para a Bahia e para o Brasil.
Muito obrigado,
Mitermayer Galvão dos Reis