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André Luiz Cerqueira de Almeida
André Luiz Cerqueira de Almeida
Titular - Cadeira 32
26/11/2016
20:10
Discurso de Posse na Academia de Medicina da Bahia de André Luiz Cerqueira de Almeida

Excelentíssimo Professor Doutor
ANTONIO CARLOS VIEIRA LOPES,

Digníssimo Presidente da Academia de Medicina da Bahia

Em sua pessoa cumprimento:

  • Os componentes da Mesa Diretora,
  • Os Membros da Diretoria,
  • Meus novos Confrades e Confreiras,
  • Autoridades presentes e representadas,
  • Minhas senhoras e meus senhores:

Peço licença ao Exmo. Presidente da AMB, Prof. Dr. Antônio Carlos Vieira Lopes e demais participantes desta honrada Academia, para esclarecer à plateia de não acadêmicos presentes, algumas informações à respeito das convenções desta Instituição:

  • Uma delas é sobre o termo "imortal";
  • Outra, porque o acadêmico que toma posse não deve, ao realizar o seu discurso, falar sobre si próprio.
  • A função do novo acadêmico, neste momento nobre, é falar sobre o patrono da sua cadeira e sobre todos os egrégios que a ocuparam anteriormente. Dessa forma, a cada nova posse, todos os acadêmicos anteriores serão lembrados e homenageados, tornando-se, portanto, imortais, haja vista que, enquanto presentes na nossa lembrança, permanecerão vivos para sempre.

Dito isso, começarei falando, com muita honra, sobre o patrono da cadeira 32, que hoje assumo, com alegria e senso de responsabilidade.

O Patrono da Cadeira 32 da AMB é o ilustríssimo Prof. Dr. LUIS ANSELMO DA FONSECA. Ele nasceu em Salvador, no ano de 1842, filho de Paulo Joaquim da Fonseca e Maria Messias da Purificação, e graduou-se médico na Faculdade de Medicina da Bahia, em 1875, depois de defender tese doutoral intitulada “Quais as propriedades químicas, as ações fisiológicas e os efeitos terapêuticos do cloral e do clorofórmio? Em que relação se acham?”.

Ocupou, na Faculdade de Medicina da Bahia, os seguintes cargos: Concorrente à Seção de Ciências Acessórias (1877 – 1880). Preparador interino de Física (1882-1883). Professor Adjunto, por concurso, da cadeira de Higiene e História da Medicina (1883). Lente de Física Médica (1891-1901).

Entre outros cargos, lecionou no Ateneu Baiano e no Instituto Oficial de Ensino Secundário, posteriormente denominado Ginásio da Bahia.

O Prof. ANSELMO DA FONSECA foi diretor do hospital Couto Maia (antigo hospital da Febre Amarela) (1880 à 1884), membro do conselho sanitário do estado e vereador do município de Salvador (1881 a 1884).

Além de médico, o DR. LUIS ANSELMO foi um grande abolicionista. Negro que era, procurou expor suas ideias e inquietações por meio de algumas obras, entre elas "A escravidão, o clero e o abolicionismo", publicada em 1887. Nesta obra, notabilizou-se por não omitir os crimes e abusos praticados contra os escravos.

O Prof. Luis Anselmo notabilizou-se por exibir toda a sua vitalidade e capacidade de argumentação a favor dos seus direitos, sempre amparado em leis e evidências.

Ao longo do tempo, promoveu debates e reflexões sobre a situação do cenário nacional, diante da inevitabilidade da abolição. Tal atitude permite vislumbrar o quanto ele estava atento às demandas e discussões provenientes de sua época, e o respeito pelas idéias abolicionistas.

O Dr. Luis Anselmo da Fonseca era médico, professor, homem de letras, filósofo, polemista notável e profundo conhecedor da língua portuguesa.

Foi de sua autoria o “Projeto para reforma do ensino secundário da Bahia", bem como outros trabalhos sobre assuntos os mais diversos. Realizou bela pesquisa que culminou com a obra “Memória Histórica da Faculdade de Medicina”, referente ao ano de 1891. 

A propósito do espírito polemista, é conhecido nos meios médicos da Bahia o rumoroso atrito do Prof. Anselmo da Fonseca com o Prof. Alfredo Britto, por ocasião do incêndio que praticamente destruiu o prédio da Faculdade de Medicina da Bahia, na noite de 2 de março de 1905.

Mereceu de Caio Moura, doutor em Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1899, o seguinte elogio: “Na Bahia, não falando dos que fazem profissão de escrever, raros serão os que, mais do que o Prof. Fonseca, hajam escrito”.

Além de todas as características acima descritas, o Prof. Luis Anselmo da Fonseca foi um médico em sintonia com seus pacientes, de raciocínio rápido e grande erudição. Faleceu em 1929. Em sua homenagem existe um bairro com o seu nome na cidade de Salvador: O bairro Luis Anselmo.

Portanto, o Patrono da Cadeira 32 deste Sodalício, médico, escritor e abolicionista, nos deixa a ideia de um ser humano abrangente, conectado com os problemas do seu tempo, com o desejo de garantir o progresso do país e de transformar todos os seus cidadãos, negros e brancos, em vencedores.

O primeiro ocupante da cadeira 32 da AMB foi o Prof. Dr. Francisco Peixoto de Magalhães Neto.

Nascido em Salvador, no dia 26 de junho de 1897, filho de José Maria Peixoto de Magalhães e de Maria Isabel Guerra de Magalhães. Realizou os primeiros estudos no Colégio Florêncio e no Ginásio da Bahia, ambos em sua cidade natal. 

Em 1914 ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia, onde foi tesoureiro, presidente e orador da Beneficência Acadêmica, além de auxiliar acadêmico do Hospital São João de Deus. Formou-se em 1919 e, logo após receber o diploma, ingressou no magistério, tornando-se professor de Psiquiatria em 1924 e, por concurso, em 1937, Professor Catedrático de Higiene. Na sua formação acadêmica, dois professores se destacaram: Clementino Fraga e Luis Pinto de Carvalho, fontes de ensinamentos, lições e admiração.

Em maio de 1933 elegeu-se deputado pela Bahia à Assembleia Nacional Constituinte na legenda do Partido Social Democrático (PSD). Participou dos trabalhos constituintes e, após a promulgação da nova Carta e a eleição do presidente da República, teve o mandato prorrogado até maio de 1935. Em outubro de 1934, elegeu-se deputado federal para a legislatura ordinária que se iniciaria no ano seguinte, tendo exercido o mandato até novembro de 1937. Revelou-se um eloqüente orador, cujas intervenções na tribuna parlamentar exibiam sua cultura e o seu patriotismo, sempre imprimindo aos debates o cunho da elegância espiritual.

Homem de Letras e Poeta, Magalhães Netto também foi membro Titular da Academia de Letras da Bahia, onde ocupou a cadeira no 8, que tem como patrono Cipriano Barata. Além de catedrático de Higiene na Faculdade de Medicina da Bahia, o Dr. Magalhães Neto foi Prof. de Biologia Educacional na Faculdade de Filosofia da Bahia.

 Em 1950 o Prof. Magalhães Neto foi designado Diretor Interino da FAMEB. Em 1952, recebeu um ofício com Moção de Louvor do Prof. Dr. Edgard Santos, Diretor afastado da Faculdade, então ocupando a Reitoria da Universidade da Bahia.

O Prof. Magalhães Neto atuou também na Saúde Pública, tendo sido Diretor Geral do Departamento de Saúde do Estado e Secretário Estadual de Saúde.

Jornalista, colaborou no Jornal de Notícias e no Diário Popular, ambos de Salvador.

Era casado com Helena Celestino de Magalhães. Um dos seus filhos, Antônio Carlos Peixoto de Magalhães, foi deputado federal e governador da Bahia de 1971 a 1975 e de 1979 a 1983. Outros dois, Ângelo Magalhães e José Maria de Magalhães Netto, saudoso professor e membro desta Academia, também desenvolveram atividades políticas.

Médico, político, professor, poeta, jornalista, orador brilhante e de largos recursos, foi uma das mais fascinantes figuras do seu tempo. Possuía uma formação humanística das mais completas e era autoridade em assuntos de cultura francesa. Sobre ele escreveu o Prof. Rodolfo Teixeira: “Francisco Peixoto de Magalhães Neto – uma personalidade que não pode ser esquecida pelo caráter, honradez, vigor intelectual, cultura humanística e pela soberana relação afetiva que lhe inspirava o Instituto de Ensino Médico do Terreiro de Jesus”.

Faleceu em Salvador, em 31 de março de 1969, sendo seu sepultamento um dos mais concorridos da sua época, reportado como uma "consagração que a Bahia prestou ao seu filho ilustre". Sua memória foi perpetuada, entre outras coisas, como nome de importante avenida da cidade de Salvador.

A Universidade Federal da Bahia lhe prestou uma justa homenagem ao denominar o ambulatório do Complexo Hospital Universitário Professor Edgard Santos, Ambulatório Prof. Magalhães Netto, isto em setembro de 1996.

E, finalmente, o acadêmico que me antecedeu na cadeira 32, e que hoje tem o título de Acadêmico Emérito desta Academia, o Prof. Dr. Luiz Carlos Calmon Teixeira.

Nascido em Salvador, em 31/10/1930, foi casado com a Sra. Vera Calmon Teixeira, falecida em 2014, com quem teve 03 filhos, sendo dois médicos e um físico nuclear.

O Dr. Luiz Carlos Calmon Teixeira graduou-se em Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 15 de dezembro de 1954 (138ª Turma), tendo como colegas Antônio Biscaia, Araken Freitas, Augusto Teixeira, Dilson Fernandes, Gustavo da Silveira, Heonir Rocha, Moysés Wolfovitch, Sérgio Santana, entre outros ilustres. Ainda na Faculdade de Medicina da Bahia, tornou-se Prof. Adjunto da disciplina de Ginecologia e Fundador da disciplina de Oncologia, na qualidade de Curso de extensão. Desenvolveu brilhante trabalho no Hospital Aristides Maltez, onde foi Chefe do Departamento de Radioterapia e Fundador do Serviço de colposcopia. O Prof. Calmon Teixeira obteve, brilhantemente, a Livre-Docência em Radioterapia na Universidade Federal Fluminense.

Em 1983 foi Presidente do X Congresso Brasileiro de Cancerologia, realizado aqui em Salvador. Depois disso, o Prof. Luiz Carlos Calmon Teixeira foi eleito Presidente da Sociedade Brasileira de Cancerologia, tendo exercido a presidência em duas gestões: de 1983 a 1987 e de 1987 a 1991. Este brilhante Acadêmico Emérito desta Academia ainda conseguiu tempo para ser Secretário de Saúde do Estado da Bahia entre os anos de 1989 e 1991.

Aproveito a oportunidade para manifestar a minha mais profunda alegria e o sentimento de honra ao assumir a titularidade da cadeira 32 da Academia de Medicina da Bahia.

Ressalto, ainda, a imensa satisfação de fazer companhia a grandes médicos desta casa, muitos deles meus professores, que serviram de exemplo e molde para a minha vida profissional. Neste momento nobre, aproveito para expor o meu comprometimento com os ideais desta Academia, prometendo cumprir e respeitar o seu Regimento, dentro dos preceitos éticos que regem o seu funcionamento.

Finalizando, agradeço primeiramente a Deus, pelo privilégio de estar vivo; à minha mãe, Profa. Jacira C. de Almeida, aqui presente, e ao meu saudoso pai Antônio Carlos P. de Almeida, tronco rigoroso e raízes profundas de uma família maravilhosa; à minha mulher Rita, fantástica, companheira dos últimos 38 anos; meus amados filhos Maria e Paulo André, razões da minha vida; meus queridos irmãos: somos seis, no total - filhos de um bancário do Banco do Brasil e de uma professora primária funcionária do governo do estado. Formaram-se todos! Dois médicos, dois odontólogos, um advogado e uma em processamento de dados. Agradeço ainda aos meus familiares, colegas, pacientes e todos os amigos que aqui estão ajudando a abrilhantar ainda mais essa noite tão especial.

Muito obrigado a todos!

Um agradecimento especial à minha mentora e madrinha na Academia de Medicina da Bahia, Profa. Dra. Eliane Elisa de Souza e Azevedo. Obrigado pelo brilhante discurso de apresentação!

Agradeço também ao nosso Presidente, o Prof. Dr. Antônio Carlos Vieira Lopes, pela carinho e atenção com que coordenou todo este processo.

Que Deus nos ilumine!

André Luiz Cerqueira de Almeida
Acadêmico Titular – Cadeira 32
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