Academia de Medicina da Bahia Scientia Nobilitat
Tamanho da Fonte
Francisco Hora Oliveira Fontes
Francisco Hora Oliveira Fontes
Membro Titular
27/03/2023
20:00
Discurso de Posse na Academia de Medicina da Bahia de Francisco Hora de Oliveira Fontes

Excelentíssimo Senhor Presidente da Academia de Medicina da Bahia, Prof. Dr. Antônio Carlos Vieira Lopes, em nome do qual também saúdo, aos demais ilustres componentes da mesa,

Agradeço inicialmente aos ilustres confrades e confreiras deste notável sodalício, por me elegerem como Membro Titular da cadeira de número 19, externando o meu agradecimento especial a Profa. Dra. Luciana Rodrigues Silva, por suas palavras de carinho e sua amizade imarcescível. Ela que foi uma incentivadora terna e tenaz, da minha participação no processo seletivo, a uma honrosa cadeira nesta Academia tão bem conduzida pelo Prof. Dr. Antonio Carlos Vieira Lopes, que em tudo e por tudo, leva muito a sério a condição de imortal, para gáudio de todos nós, seus amigos e admiradores, que a todo momento somos surpreendidos com a elegante vitalidade que ele emprega em tudo a que se dedica.  Quero registrar também a honra de ter sido conduzido à Academia, nobre e simbolicamente, através desse bicentenário salão, pelas Confreiras Profas. Dras. Maria Betânia Pereira Toralles, Reine Marie Chaves Fonseca e pelo confrade Prof. Dr. Octavio Henrique Coelho Messeder.

O momento também é de enaltecer aos mestres do passado e do presente, que me trouxeram até aqui, personificados no inesquecível Prof. Dr. Antonio Carlos Peçanha Martins, com quem compartilho este momento e esta cadeira, de uma forma muito especial.

Como também o faço em relação aos Colegas, Alunos, Amigos, e pacientes, aqui presentes.

E deste púlpito olhando para a minha Amada Família, tenho a plena convicção de que “a vida é o que fazemos dela e o que vemos não é o que vemos senão o que somos”, parafraseando Fernando Pessoa.

Registrados meus agradecimentos e o meu compromisso de melhor servir a Academia de Medicina da Bahia, passo agora a um dos pontos importantes dessa solenidade, que é o panegírico ao Patrono da Cadeira 19, Professor Dr. Fernando Luz, assim como ao seu último ocupante, o Prof. Dr. Gildásio de Cerqueira Daltro.

O Prof. Dr. Fernando Luz nasceu em Salvador, em 31 de outubro de 1886, sendo seus pais Fernando Antunes da Luz e Maria Devoto Luz. Realizou os cursos primário e preparatório no Colégio 7 de Setembro, um dos mais tradicionais estabelecimentos de ensino de Salvador naquela época. Em 1903, ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia. Nomeado Interno da Cadeira de Clínica Cirúrgica, cujo catedrático, Prof. Antônio Pacheco Mendes, mestre dos mais notáveis, foi para o jovem Fernando Luz, verdadeiro exemplo de vida.

Concluiu o curso médico em 1908, tendo como colegas de turma Aristides Pereira Maltez e  Joaquim Martagão Gesteira, dentre outros luminares da medicina brasileira.  Logo, assumiu a prática de cirurgião do antigo Pronto Socorro da Bahia, onde permaneceu por quase 20 anos.

Em 1912, prestou concurso para Professor Livre Docente de Clínica Cirúrgica. Dois anos depois foi nomeado Professor Extraordinário de Clínica Cirúrgica e em 1917, após brilhante concurso, foi designado Professor Substituto da 11ª Sessão que abrigava as Clínicas Cirúrgica, Pediátrica e Ortopédica. Em 1920 foi nomeado Titular da 1ª Cadeira de Clínica Cirúrgica. Além de docente do mais alto conceito, desenvolveu o Prof. Fernando Luz intensa atividade clínica, com dedicação e rara competência. A sua produção científica foi das maiores e melhores. Além de trinta e duas comunicações científicas, fez publicar sessenta trabalhos, dentre os quais podemos ressaltar: “Cura radical da hipertrofia da próstata” sua tese de doutoramento; “Manual de Propedêutica das Vias Urinárias”, trabalho para habilitação à Livre Docência; “Oclusão Intestinal”, trabalho com o qual concorreu a vaga de Professor Extraordinário; além do “case of Gandú observed in Bahia-Brazil - Problemas de Patologia das Vias Biliares extra-hepáticas”, que teve repercussão internacional. Como Diretor Clínico, Cirurgião e Professor, o Dr. Fernando Luz foi responsável pelo projeto de modernização do Hospital Português, da Real Sociedade de Beneficência Portuguesa, por mais de 3 décadas, participando com obstinação da supervisão e orientação das obras, ao mesmo tempo em que fazia parte também do corpo médico e da diretoria da Instituição. Em 1953 o Hospital Português o imortalizou em bronze neste busto, em reconhecimento à toda a sua profícua trajetória. Quer no Hospital Português da Bahia, quer no Hospital da Santa Casa de Misericórdia, exerceu verdadeiro apostolado, vendo em cada paciente, um ser humano que merecia o mais devotado cuidado. Sempre idealista e realizador, trouxe para a Bahia o Hospital da Cruz Vermelha Brasileira, do qual foi Presidente. Para além das atividades clínicas e acadêmicas, o Prof. Fernando Luz honrou com o seu apoio e a sua presença efetiva, várias instituições científicas e culturais da Bahia de então. Ao penetrar em uma sala de operações era como se o fizesse em um santuário.  O Prof. Dr. Fernando Luz, faleceu de mal súbito, em 1942, aos 56 anos de idade, em plena atividade profissional, causando imenso pesar a toda sociedade baiana. Seus amigos, colegas, clientes e admiradores construíram seu mausoléu, nele colocando a seguinte inscrição: “Ao seu bondoso e benemérito cirurgião a sociedade baiana agradecida”.

O Prof. Dr. Gildásio de Cerqueira Daltro foi o último ocupante da cadeira 19:

Ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia/UFBA, em 1969, concluindo o curso médico em dezembro de 1974. Fez a Residência Médica em Ortopedia no Hospital Anchieta - São Paulo, 1975-1977.  Em 1978 especializou-se em cirurgia do quadril, especialmente as artroplastia do quadril e fratura pélvica com o Professor Emile Letournel, no Hospital Raymond Poincarê, em Paris, participando do desenvolvimento das modernas próteses de quadril e a técnica cirúrgica das fraturas complexas da Bacia. Ingressou na docência da Faculdade de Medicina/UFBA, em 03/03/1980, onde desenvolveu o doutorado entre 1994 e 1998, com Tese sobre o estudo comparativo dos acessos anterior e lateral direto para artroplastia total do  quadril. Em 2000, apresentou a Tese de Livre Docência na Faculdade de Medicina da Bahia,em Osteonecrose da cabeça femoral nas pessoas com Doença Falciforme. Em 2002, retorna a Paris, para os estudos do uso das células tronco mesenquimais da Medula Óssea para a regeneração óssea da necrose da cabeça femoral. Durante o período de 2004 a 2018, proferiu conferências, participou das comissões de ciência e tecnologia e da comissão de seguridade social do congresso nacional. Em 08 de novembro de 2015 recebeu o título Honorífico de Membro de Honra da Sociedade Francesa de Cirurgia Ortopédica. Em 2018, foi convidado juntamente com o professor Philippe Hernigou, da Universidade de Paris, para coordenar o número especial da revista internacional de ortopedia, culminando com o seu lançamento no Congresso da Sociedade Internacional de Ortopedia em 2018, em Montreal. O seu ideário pode ser expresso nas suas próprias palavras:

“Estar com os jovens alunos da nossa Faculdade de Medicina e os pacientes do Hospital Universitário é o grande prêmio nesta profissão, que se completa pelo apreço aos colegas médicos, sobretudo da Honrosa Academia de Medicina da Bahia”.

Finalizados os panegíricos, não posso deixar de fazer algumas reflexões que me são muito caras, de agradecimentos à minha família, aqui muito bem representada por minhas irmãs Mirena, Guiomar e meu irmão Cristiano, por minhas filhas e colegas Adriana e Alice, e pelos primos, sobrinhos, afilhados e todos vocês deste meu universo peculiar. Os meus filhos Antonio e André além do meu neto Heitor, das netas Nina e Lara, da minha nora Liz e do meu genro Thales, não puderam comparecer, mas já manifestaram hoje e sempre toda a afeição que nos dispensamos.

Só nos restaria indagar como o fez o poeta Caetano Veloso:  Existirmos a que será que se destina? Pois, afinal de contas, a vida é um grande e incontrolável acaso, acaso esse sem agenda própria, como expressou em sua sensibilidade poética, Zulmira Ribeiro Tavares ao dizer “O que me intriga na vida é ela não ter agenda própria. Escrevo eu em uma agenda, Ela por cima escreve a sua. Por isso eu gosto da vida. Porque não se leva a sério. Porque me atraiçoa”. Entretanto, por óbvio, por saudades e por gratidão, quero ressaltar a importância das mulheres na minha vida, minha Avó a Professora Guiomar, Minha Mãe a Farmacêutica Yolanda, minhas irmãs e minhas filhas. E claro, Ana Luiza minha amada mulher há mais de 46 anos, que “agora sim, pelo meu nome não me chama, porque é quem já conhece mais a voz do homem que te ama”, como bem o disse Moraes Moreira.

Mas afinal para que serve mesmo a vida, a não ser para ser bem vivida e muito bem acompanhada,

Muitíssimo Obrigado a todos vocês! 

 

 


 

Academia de Medicina da Bahia
Praça XV de novembro, s/nº
Terreiro de Jesus, Salvador - Bahia
CEP: 40026-010

Tel.: 71 2107-9666
Editor Responsável: Acadêmico Jorge Luiz Pereira e Silva
2019 - 2024. Academia de Medicina da Bahia. Todos os direitos reservados.
Produzido por: Click Interativo - Agência Digital