Academia de Medicina da Bahia Scientia Nobilitat
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Antonio Carlos Moreira Lemos
Antonio Carlos Moreira Lemos
Titular - Cadeira 47
29/11/2017
14:00
Discurso de Posse na Academia de Medicina da Bahia de Antonio Carlos Moreira Lemos

Saudação da mesa, caros confrades e confreiras, autoridades presentes, meus senhores e senhoras.
Inicio essa solenidade dizendo: o que fortalece uma instituição não é apenas o seu título e/ou seu palácio, mas a sua atuação e a qualidade intelectual, científica e humanística dos seus componentes. Carl Jung, psiquiatra e psicoterapeuta suíço, que fundou a psicologia analítica, disse “Conheça todas as técnicas, domine todas as teorias, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana”. Condições indispensáveis para formação do profissional de saúde.
Foram exatamente estas qualidades que o Professor Humberto Castro Lima trouxe para esta Academia. Qualidades estas que percebo em todos os confrades e confreiras.
A minha saudação ao Professor Humberto de Castro Lima, será um reconhecimento, ao saber, a habilidade e a humanidade. 
O Professor Luís Fernando Macedo Costa, professor de fisiologia da Faculdade de Medicina da UFBA e da qual foi Reitor, em solenidade de posse nesta Academia do patrono da cadeira 47, disse que três linhas dominantes marcaram a vida do Professor Humberto de Castro Lima: a competência como médico, a fidelidade à vocação como professor Universitário e o cidadão empreendedor.

O Médico:
Não existe bom médico sem dedicação, espírito compreensivo e calor humano. Mas o profissional completo requer, ao lado destas características, uma continuada e estoica disciplina de estudo. Não é, apenas, a leitura, para informação teórica, mas também o aprimoramento nas técnicas propedêuticas e utilizadas de forma ininter¬rupta, para conferir o desembaraço que resulta da familiaridade com a metodologia empregada. A julgar por esses parâmetros, o meu patrono, era portador de todas as qualificações e credenciais do verdadeiro médico. O zelo e a abnegação pelos pacientes conferiram a sua consagração profissional.
Diplomado em 1948, pela nossa querida Faculdade de Medicina da UFBA. Estagiou nas áreas de neurologia e psiquiatria, com o Professor Rubim de Pinho, e também com o irmão mais velho, Professor Orlando de Castro Lima, nas áreas de otorrinolaringologia e oftalmologia, atividades exercidas na graduação. A dúvida da especialidade, a seguir foi dissipada com o curso de especialização em oftalmologia, ministrado pelo eminente professor Moacyr Álvaro. 
A seguir, estimulado pelo Professor José Silveira, à época Presidente desta Academia, foi para os Estados Unidos em 1949, já tendo razoável conhecimento da especialidade, e por lá permaneceu durante quatro anos. O seu empenho e dedicação em adquirir formação sólida em oftalmologia, fez com que a sua pós-graduação nos Estados Unidos iniciasse como Junior Resident, a seguir Senior Resident e por fim Cirurgião no Hospital New York Eye and Ear Infirmary, o mais antigo e tradicional hospital de olhos da América. Ao final, submeteu-se aos exames do American Board of Ophthalmology, e recebeu convite para se instalar definitivamente nos Estados Unidos.
O seu desejo impediu tomar tal decisão, queria voltar a sua querida Bahia e servir a sua gente. E aqui construiu a sua reputação, e ganhou credibilidade nacional e internacional.
O convívio com renomados especialistas daquele país rasgou horizontes amplos. Sentiu a valia daquela experiência e sentiu tanto que, tempos depois, em 1970, voltou, para a reatualizar-se de conhecimentos que a Medicina exige. Sabemos que o conhecimento médico cresce de forma exponencial, de tal sorte que: “quanto mais corremos mais sentimos que estamos ficando para trás". Portanto, é necessário ser ágil nas atualizações científicas e nas novas tecnologias.
A análise cronológica do "curriculum vitae" do patrono da cadeira 47 revela que conservou a mesma velocidade da juventude, na maturidade. A participação em congressos, nacionais e internacionais, os cursos de extensão e especialização, enfim, a múltipla atividade no âmbito da oftalmologia reflete o permanente interesse do estudioso e explicam o renome e prestígio que desfrutou. 

O Professor:
A profissão medica é bela, sem dúvida. Mas bela, também, é a função do professor. "Ensinar é a mais pura forma de amar os homens" escreveu Ortega y Gasset, filósofo, jornalista e ativista político espanhol. Dificilmente haverá um profissional, com a sensibilidade humana e o propósito de servir do médico, que não possua, igualmente, vocação para professor.
O patrono da cadeira 47 desta Academia confirma essa assertiva, pois a atração exercida pelo magistério assumiu, no seu caso, características de pendor incoercível. Nada foi fácil, nada foi doado ou oferecido. Tudo foi conquistado pelo Professor Humberto Castro Lima. A sequência dos graus universitários põe em relevo a perseverança do proposito. 
Doutor em Medicina pela Universidade do Brasil. Docente-livre em 1965, com a tese experimental: "Estudo sobre a Resistência do Sistema Suspensor do Cristalino". Foi Clinical Assistant of New York Eye and Ear Infirmary. Assistente da Clínica Oftalmológica da Escola Baiana de Medicina. Em 1971, foi aprovado no concurso para Professor Titular.
Finalmente, alcançou a cátedra, ideal obstinadamente buscado e que foi atingido. A cátedra como um destino, mas não como objetivo final e sim como o meio para a formação do profissional, criando um habitat para o desenvolvimento dos especialistas.
A rigor, o professor não pode mais ser visto e avaliado apenas pela sabedoria e acerto dos ensinamentos que ministra. Precisa, ademais, estimular e desenvolver estudos, fixar diretrizes, fazer escola, com dedicação, altivez e firmeza.
O nosso Homenageado, tinha as qualidades requeridas. De professor e de líder, e por isso, fez escola. Conquistou colaboradores e atraiu discípulos. Ensinou e educou, porque tinha as duas grandes paixões que fazem o professor: o amor à verdade científica e o amor aos seus alunos. 

Por fim, o cidadão: 
Um cientista com espírito público. A medicina é absorvente e possessível. Exige devotamento completo e permanente, assim como fortaleza de ânimo. O médico deve ser, por isto, um pouco de santo e um pouco de herói: uma espécie de híbrido, bem definido por Duhamel, médico, humanista, poeta e escritor francês, quando designou a classe como "a admirável legião dos heróis de blusa branca".
Ademais, o exercício da clínica caracteriza-se pela atuação individual, expressa pela empatia médico-paciente. Talvez, por esse gênero de trabalho, o médico que exerce a clínica em qualquer dos seus ramos, descura-se dos problemas sociológicos de massa e volta-se, com amor e abnegação, a cada um dos seus pacientes, isoladamente. A comunidade é vista mais como pequenas ilhas de pessoas do que como um todo.
Poucos, bem poucos, são aqueles médicos que, embora no exercício da clínica individual, voltam suas preocupações, de caráter profissional, para os aspectos comunitários, vinculados a sua especialidade. Raros, ainda mais raros, os profissionais que se atribuem, a si mesmos, a responsabilidade de enfrentar problemas médicos de massa, sem cargo que os obrigue a tanto e desprovidos de qualquer amparo oficial ou institucional. São idealistas quase visionários, que adotam essas iniciativas por conta própria, com esforço e sacrifícios, confiantes, apenas, na chama propulsora da própria determinação e na generosidade e apoio de seus concidadãos.
Admiráveis cidadãos, que, não obstante a passividade do meio possui a coragem de ter ideal para sustenta-las e a bravura de lutar por elas.
São cidadãos singulares, com capacidade para realizar além do possível. Distende o tempo e os espaços, tornam-se esféricos para conter maior volume, com seu labor produtivo.
Disse o Professor Macedo Costa: Não conhecemos muitos destes homens, mas podemos citar Cézar de Araújo com o Santa Terezinha, hoje Hospital Especializado Otávio Mangabeira; Jose Silveira, na sua inquietude construtiva, com o I.B.I.T.; Humberto de Castro Lima, com o Instituto Brasileiro de Oftalmologia e Prevenção da Cegueira (IBOPC). Aproveito a oportunidade para citar também, Geraldo Leite com sua dedicação à fundação da Universidade Estadual de Feira de Santana e agora a frente da Fundação José Silveira e o Professor Álvaro Rabelo a frente da Fundação Baiana de Cardiologia.
Obras notáveis, que aí estão servindo a Bahia e a sua gente. Professor Humberto de Castro Lima, este Instituto criado pelo seu entusiasmo, abnegação e conhecimento, tem elevado padrão cientifico e assistencial, contribuindo para a formação do especialista qualificado, do ponto de vista material e humano, realizando a pós-graduação em oftalmologia e permitindo a volta do horizonte a tantos que enxergam pouco ou mesmo aos cegos, é um dos melhores exemplos de uma instituição singular do nosso Estado.

Este querido patrono dedicou grande parte do seu labor na sua construção. A grandeza das ações humanas mede-se pela inspiração que as faz nascer. Não foi nada fácil e tudo começou em 1952 quando retornou dos Estados Unidos, se aproximou de um dos mais notáveis sanitaristas brasileiros, o Professor Manoel Ferreira, e com a sua ajuda instalou em um barracão da Fundação Gonçalo Muniz, em Salvador, uma clínica para atendimento de pessoas carentes, embrião do que viria ser o futuro Instituto Brasileiro de Oftalmologia e Prevenção da Cegueira (IBOPC).
Durante toda vida foi membro ativo do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, foi fundador da Sociedade Pan-Americana de Glaucoma, membro da Sociedade Pan-Americana de Oftalmologia, patrono da Associação Pan-Americana de Oftalmologia, membro do Instituto Barraquer, sócio benemérito da Sociedade Italiana de Oftalmologia, entre outras atividades associativas. Foi observador, professor convidado e conferencista em inúmeras instituições e eventos internacionais. Presidiu encontros e congressos nacionais. Orador brilhante, grande amante da filosofia e da literatura, teve sempre sua arte requisitada para ser orador oficial nos mais diversos eventos e fez, também, a alegria de seus amigos, de sua família, de seus três filhos e dos companheiros nas rodas de conversa informais. Todos aqueles que privaram de sua companhia, inclusive no trabalho, como os funcionários das instituições que dirigiu, beneficiaram-se de sua personalidade forte, às vezes intempestiva, mas profundamente amorosa e solidária, sempre disposto a ensinar e ajudar. 
Recebeu inúmeras honrarias, entre elas a Medalha Tomé de Souza e a Medalha de Ouro da Universitá degli Studi di Roma. Coordenador Geral da Fundação Baiana para Desenvolvimento das Ciências, mantenedora da Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública, a partir de 1992, tendo também imprimido nela sua marca de grande realizador, criando dois novos campi, ampliando muito a capacidade assistencial da instituição e aumentando o número de cursos oferecidos, com foco principal na qualidade dos mesmos para formar profissionais e cidadãos altamente qualificados e capazes de atender às necessidades da população. Por sua visão de futuro, criou, também, um mestrado e um doutorado em Medicina e Saúde Humana e um mestrado em Oftalmologia, tornando a Escola Baiana de Medicina uma das raras instituições do Norte e do Nordeste a oferecer pós-graduação stricto-sensu nesta área. 
Em seu discurso de posse nesta Academia, disse o Professor Humberto: pareceu-me paradoxal que tendo sido sempre uma criança de mãos inábeis, desajeitadas para consertar brinquedos ou plantar arvores, tivesse a vida me conduzido para onde as mãos se tornam instrumento de tão refinadas técnicas, microscópicas algumas, a exigir tanto cuidado e destreza.
Nesta noite, tenho uma impressão curiosa. Não foi à mente que se dedicou aos estudos; não foram os trabalhos publicados, produto de uma racionalização que poderiam ter agradado ao espírito acadêmico, mas sim as minhas mãos que me trouxeram aqui. São as mãos adestradas na arte da cirurgia, restaurando a visão e dando, consequentemente, a vida; As mãos que, afinal, aprenderam a colher flores sem se ferir nos espinhos; as mãos que terminaram por aprender a transmitir ternura no contato à outra criatura humana. São as minhas mãos, agora instrumentos ideal dos meus sentidos e da minha mente, recebendo neste momento, um prêmio, que pode não ser merecido, mas certamente, inspirado na generosidade do amor. 
Ainda na sessão de homenagem da posse do Professor Humberto de Castro Lima nesta Academia, em 02 de setembro de 1976, o Secretário de Educação, Professor Carlos Menezes de Sant’Anna disse em seu pronunciamento: “Ouvi-o dizer que se foram as mãos e o acaso que o trouxeram aqui, quero dizer que não foi apenas o acaso, e muito pouco o acaso. Ao contrário, foi sim a perseverança, foi sim o trabalho diuturno, foi sim a certeza de que obteria as vitórias que obteve, foi sim o amor que iluminou toda a sua vida, isso sim. Talvez, no encontrar uma dose razoável de boa sorte, é possível que tenha influído, mas muito pouco ter influído com certeza, porque muito pouco o acaso contribui para que o indivíduo obtenha na continuidade os sucessos que você obteve Humberto o trouxeram até aqui. E não foram suas mãos que o trouxeram! Suas mãos terão sido talvez, os instrumentos. Acredito muito mais ter sido seu cérebro. Não creio que o seu cérebro! Eu diria, talvez, como o poeta que você demonstrou que é: foi o seu coração.
Ainda na saudação de posse do Professor Humberto de Castro Lima nesta Academia, o Professor Luís Fernando Macedo Costa citou: Felicito a Academia por vos ter acolhido com a sua aprovação unânime. Nossos ideais, crescentemente ambiciosos, requeriam o concurso de vossa inteligência. Vossa carreira vitoriosa merecia a consagração e o aplauso de uma instituição independente. E disse mais: elogiar o Professor Humberto era uma coisa fácil e sincera, a rigor, bastava fazer justiça.
Quero agradecer a Confreira Maria Luísa Soleanii, Coordenadora Geral da Fundação Baiana para Desenvolvimento das Ciências, Diretora da Escola Baiana de Medicina e Saúde Pública e viúva do Patrono ora homenageado, que certamente contribuiu com tão auspiciosa trajetória de vida, por me proporcionar leitura tão enriquecedora. 
Por tudo isto Professor Humberto de Castro Lima, me sinto lisonjeado, confortável e engrandecido por ocupar tão importante cadeira de Membro titular desta Academia. Árdua será minha tarefa de honrar e seguir com o brilhantismo do meu Patrono, e já adianto ser impossível, mas farei tudo que estiver ao meu alcance. 

Meus caros confrades e confreiras, Magnífico Reitor, demais membros desta mesa, meus senhores e senhoras.
As palavras para descrever o que sinto neste momento são imprecisas ante o cénaculo que congrega inestimáveis tesouros. Dizem que a face é o espelho da alma. Pois bem, o sorriso que aflora o meu rosto demonstra a alegria e a emoção que, neste momento, preenchem meu espírito.
Quero dedicar esta Homenagem, primeiramente, а Deus pоr ser essencial еm minha vida, autor do mеu destino, mеu guia; à memória de meus pais Hélvécio e Helena que sempre me deram a certeza que eu não estava sozinho; е a minha família, Márcia, Felipe, Bernardo, Vitória e Antônio, vocês são a razão maior da minha vida.
Dizem que a humildade é um contraponto na formação de lideranças. Penso diferente e acho que a humildade é a coroa dos melhores homens. A maior liderança que o mundo já conheceu, Jesus Cristo, era um homem humilde e liderou multidões sem exercer a força ou a compra do poder. Ser humilde sem ser subserviente, ser humilde para servir necessidades é uma prova de humanismo, o que fortalece o exercício da liderança com dedicação, sem perder a altivez e a firmeza.
Este sentimento carrego desde o meu berço originário, a cidade de Coaraci, e que se eternizará até quando o meu cérebro permitir exerce-la. 
Agora pergunto, por que estou aqui? Foram os meus méritos? Será que os tenho tantos? Tantos são os que merecem! Será que cheguei pela minha vaidade, sim as tenho, mas muito pouca, a não ser a de sentir-se vaiodoso quando exerço o bem. 
Acho que vim como um andarilho que caminhou léguas com os pés no chão, e agora estanca pasmado diante do colosso de uma catedral. Entro para esta Academia com meus próprios pés, mas apoiado em ombros de muitos amigos. Na vida se estamos sozinhos temos como companheira a solidão, mas se caminhamos acompanhados, somos multidão. Hoje como ontem me sinto fortalecido, porque agora tenho a companhia dos meus mestres Confrades e Confreiras desta egrégia Academia, e ontem tive às de Mário Rigatto, Nelson Porto, José Silveira e tantos outros, a todos a minha homenagem e a minha gratidão.
Neste momento, quero fazer uma homenagem especial aos professores, servidores técnico-administrativos, estudantes e usuários do Sistema Único de Saúde do Hospital Universitário Prof. Edgard Santos. Quero mais uma vez agradecer essa Academia ter permitido a realização desse sodalício nesta casa, Hospital das Clínicas da Universidade Federal da Bahia, fato ocorrido pela primeira vez. 
A minha historia como estudante da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia e toda minha carreira de professor, pesquisador e gestor estão intimamente ligadas a este Hospital. Assim, Magnífico Reitor João Carlos Sales e meu caro presidente Antônio Carlos Vieira Lopes, sinto-me como um ente entre a Universidade Federal da Bahia e essa Academia, realizando uma celebração institucional. Acolhido assim, sou grato por tão grande honoraria que me concede esta egrégia Academia de Medicina da Bahia.
Meus senhores e minhas senhoras, caros confrades e confreiras, relembro que para concorrer a membro titular da cadeira 47, cujo patrono é o Professor Humberto de Castro Lima, tive que apresentar um artigo científico o qual, em conjunto ao meu currículo, foi aprovada a minha titularidade nesta casa. Permitam-me, confrades e confreiras, mas tenho que falar alguma coisa sobre este assunto, importante na minha vida acadêmica e como cidadão. 
Tenho muitas preocupações com a atenção à saúde dos portadores de doenças respiratórias.  Nos países pobres e de média e baixa renda, caso do nosso, o sintomático respiratório, representa cerca de 20-30% dos atendimentos na atenção básica de saúde e tem uma abordagem simplória, porém de grande relevância. Há um mensagem/propaganda do Ministério da Saúde, onde se adverte: “Se você tem tosse, por três ou mais semanas, procure uma unidade de saúde, você pode ter tuberculose”. Quando lá chegam é investigado com dois exames de escarro para confirmar ou descartar se o mesmo é portador de Tuberculose. Assim, ele é tratado se for positivo ou é dado um antibiótico, na maioria das vezes desnecessária, e se a unidade de saúde o dispuser. 
Todos nós sabemos do flagelo humano que é a tuberculose, 10,5 milhões de casos a cada ano, 1,4 milhão de mortes, a isto se acresce 400 mil mortes decorrentes da co-infecção tuberculose/HIV. Doença intimamente ligada à pobreza, aos moradores de rua, os viciados em drogas lícitas e ilícitas, as aglomerações urbanas (Favelas) e a epidemia do vírus HIV. 
Não tenho dúvida de que o Instituto Brasileiro para Investigação da Tuberculose - IBIT, hoje com o apoio da Fundação José Silveira, muito expandiu sua atenção para assistência e pesquisa em tuberculose, com índices de cura não visto em nenhum outro rincão deste país. 
Faço estas considerações para concluir que o Confrade Professor Geraldo Leite, dando continuidade aos ideais do imortal Professor José Silveira, é hoje na Bahia e quiçá no Brasil, um dos maiores responsáveis na luta contra a Tuberculose. Ao confrade Geraldo Leite, tenho a afirmar que a Bahia é grata pelo seu esforço nesta luta, e pessoalmente sou muito grato à confiança que o Confrade depositou em mim e já de há muito tempo, e, mais recentemente, pelo convite e aprovação do meu nome como membro do Conselho de Curadores da Fundação José Silveira. Também, quero agradecer o convite que o fiz, prontamente aceito, para o referido confrade fazer a minha saudação. Meus sinceros agradecimentos Confrade Professor Geraldo Leite por tão bela saudação.
Voltado às doenças respiratórias, fui a convite do Presidente da Associação Latina Americana do Tórax, Professor Rogelio Perez Padilha, participar do lançamento do Programa de DPOC do Estado Mexicano. Me chamou à atenção a apresentação do Philip Hopewell, professor, pesquisador e epidemiologista da Faculdade de Medicina da Universidade de São Francisco e líder do programa “STOP TB” da Organização Mundial de Saúde, intitulado “Practical Approach to Health Lung”, que versava sobre a necessidade de se continuar a investigação dos sintomáticos respiratórios com a finalidade de reforçar o Programa “STOP TB” e de diagnosticar outras doenças respiratórias. 
As doenças do trato respiratório, especialmente as mais prevalentes, tais como Tuberculose (TB), Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC), Asma, Câncer de Pulmão e Pneumonia, constituem um importante problema de saúde pública. O impacto destas enfermidades na morbidade e mortalidade da população, especialmente nos países com frágeis estruturas de atenção primária de saúde pública, representa um desafio para os gestores de saúde. Dados epidemiológicos sobre estas enfermidades são alarmantes. Em 2002, doenças respiratórias foram responsáveis por mais de 11 milhões de mortes, ou seja, 20% das 54 milhões de mortes que aconteceu em todo o mundo naquele ano. 
Dos sintomáticos respiratórios que procuram atenção à saúde, apenas 1% a 2% são diagnosticados com Tuberculose. Os sintomas respiratórios nos pacientes com TB são, em geral, similares aos apresentados por sintomáticos respiratórios não tuberculosos. 
Por exemplo, a Organização Mundial da Saúde estima que existe cerca de 65 milhões de pessoas com moderada a grave doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) no mundo e que mais de 3 milhões de óbitos ocorreram devido a esta doença somente no ano de 2005. É fato conhecido que 90% das mortes pela doença ocorrem em países de baixa e média renda. A mortalidade total de DPOC crescerá em cerca de 30% nos próximos 10 anos, a menos que uma urgente e intensa ação para reduzir fatores de riscos ligados à doença, especialmente uso de tabaco, que também é a principal causa de câncer de pulmão, e exposição à queima de biomassa, seja intensificada. Estimativas mostram que DPOC será a terceira causa de morte até 2030. Um estudo nacional demonstrou que apenas 9,2 % das pessoas reconheceram o termo “DPOC”. Quando dizemos ao paciente: “o senhor tem DPOC! eles olham espantados: DP o que?” Tamanho é o desconhecimento.
Estima-se que 334 milhões de pessoas sofrem de asma no mundo. Cerca de 14% das crianças têm asma. As maiores prevalências são observadas na Austrália, Europa e Brasil. 
Poderia continuar discorrendo sobre dados epidemiológicos de outras doenças respiratórias, como câncer de pulmão, doenças pulmonares intersticiais, hipertensão arterial pulmonar, pneumoconiose e outras. Mas o fato é que todos portadores de doenças respiratórias são sintomáticos respiratórios. 
Foi com base nos ensinamentos do Professor Philip Hopewell que escrevi o artigo citado anteriormente, intitulado “Avaliação sistematizada dos sintomáticos respiratórios”. O artigo versa sobre um programa de manejo de portadores de doenças respiratórias que deve ser implantado em países de baixa e média renda com razoável programa de controle da tuberculose, onde estar inserido o Brasil e a Bahia. Basicamente consiste em se continuar investigando a tuberculose e outras doenças respiratórias naqueles sintomáticos cujo exame de escarro foi negativo. Nesta população vamos encontrar as infecções respiratórias agudas, muitos asmáticos e DPOC, outros tantos fumantes, outras doenças respiratórias crônicas e novos casos de tuberculose, onde a investigação diagnóstica e terapêutica acontecerá em uma fase precoce da doença e com baixo custo. O Programa acontecerá predominantemente na atenção básica onde diretrizes para prevenção, diagnóstico, tratamento e promoção dos sintomáticos respiratórios serão implementadas. Poderia ainda continuar falando do que escrevi, mas o essencial está nas mais de 30 páginas do artigo que enviei para esta Egrégia Academia.
Tenho certeza que se um movimento liderado pela Universidade Federal da Bahia através do Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos com apoio dos gestores estadual de saúde (aqui representado pelo Excelentíssimo Dr. Fábio Vilas Boas, Secretário Estadual da Saúde da Bahia) e municipal, este será um projeto que muito contribuirá para melhoria da saúde respiratória dos baianos. No entanto, se faz necessário outros apoios, a exemplo das diferentes entidades médicas do nosso estado, mas um especial apoio da Academia de Medicina da Bahia, entidade com finalidade cultural e científica. 
Assim, tenho certeza que, sob a liderança do Serviço de Pneumologia do Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos da UFBA, em conjunto com o IBIT, a Sociedade de Pneumologia da Bahia e o Hospital Especializado Octávio Mangabeira, os quais não se furtarão a participar deste Programa, e com o apoio desta academia, esta demanda tão relevante para saúde pública do nosso estado será viabilizada.
Finalizo, dizendo aos meus caros confrades e confreiras, a todos os presentes, que estarei aqui para contribuir no que posso, mas, sobretudo, para aprender com Vossas experiências, e aproveito para citar o maior educador brasileiro, Paulo Freire: “Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.” Dito isto fica explícito que o aprendizado é uma coisa inacabada, nos dando a certeza que aprendemos sempre, e assim hoje sou melhor do que ontem e amanhã serei melhor do que hoje.

Muito obrigado
Prof. Dr. Antônio Carlos Moreira Lemos
 

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