Academia de Medicina da Bahia Scientia Nobilitat
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José Humberto Oliveira Campos
José Humberto Oliveira Campos
Cadeira 30
11/12/2014
20:00
Discurso de Posse na Academia de Medicina da Bahia de José Humberto Oliveira Campos

Ilmo. Professor Doutor Almerio Machado
Presidente da Academia de Medicina da Bahia
Ilmo. Professor Doutor Antônio Natalino Manta Dantas
Acadêmico que apresentará o novo membro
Ilma. Professora Doutora Maria Luiza Soliane
Diretora da Escola Bahiana de Medicina
Ilmo. Doutor Paulo Câmara
Presidente da Câmara dos Vereadores da Cidade de Salvador representando o município
Ilmo. Doutor José Reginaldo Farias
Representante do Poder Judiciário
Ilma. Doutora Ilana Campos
Representando a Ordem dos Advogados da Bahia

Minhas senhoras e meus senhores

É com muito orgulho e uma enorme satisfação que ingresso hoje na Academia de Medicina da Bahia, instituição essa que tem a missão dignificante de preservar e engrandecer a ciência a ética e a cultura. Composta por membros respeitados por toda comunidade científica, das letras, do magistério, das administrações médicas e acima de tudo com alma de filósofos. Ser merecedor desta honraria através dos vossos sufrágios me faz refletir e concluir que valeu a pena toda dedicação à assistência, ao ensino, a pesquisa e a ética, e me impulsiona a buscar ainda mais, numa incessante vontade de aprender e de ensinar. Afinal de contas o conhecimento não pode estagnar ele precisa ser disseminado.

Ser saudado pelo Prof. Antonio Natalino para mim é uma honraria à parte, ao findar o curso de medicina ingressei na Residência Médica de Cirurgia Geral e através das suas mãos aprendi a manusear o bisturi e a me apaixonar por essa especialidade tão complexa, que aos poucos com os seus ensinamentos aprendi com facilidade. Homem de postura correta que não sucumbia a pressões. 

Construí naqueles dois anos o alicerce necessário para minha especialização em Cirurgia Plástica. Obrigado Professor! Quando eu falo Obrigado Professor! Essa frase se ecoa e atinge a um infinito número de bons professores que me moldaram, alguns aqui presentes e outros muitos espalhados mundo afora.

Ocupar a cadeira número trinta cujo patrono é o Prof. Juliano Moreira, primeiramente é uma grande responsabilidade que logo se transforma em orgulho de um exemplo a ser seguido. Juliano Moreira nasceu em Salvador no ano de 1872, negro e de origem pobre, muito precocemente ingressou na Faculdade de Medicina da Bahia aos treze anos, em 1885, ou seja, antes da abolição da escravatura que ocorreu três anos depois, graduando-se aos dezoito anos em 1891, tornando-se professor desta faculdade aos 23 anos.

Juliano Moreira foi um pioneiro e desbravador dos preconceitos da época em que viveu, promoveu uma revolução estrutural, sanitária e ética no Hospital dos Alienados quando se mudou para o Rio de Janeiro em 1903 ocupando o cargo de diretor. Registros fotográficos mostram nitidamente leitos limpos, claros e com um aspecto digno, deixando de lado a visão sombria de masmorras com grades, correntes e maus tratos de épocas anteriores, para se tornar um lugar apropriado aos pacientes internos.

Psiquiatra de projeção internacional foi Presidente Honorário do 4º Congresso Internacional de assistência a alienados, em Berlim. Destacou-se também na área da dermatologia, foi o primeiro pesquisador a identificar a leishmaniose cutâneo-mucosa, e buscou provar que a questão racial não motivava as doenças. Tem diversas publicações em periódicos de cunho internacional, foi membro de diversas sociedades médicas em todo o mundo frequentando vários congressos internacionais, onde transitava com a facilidade de quem dominava seis idiomas.

Se não bastassem relevantes méritos a consagra-lo: mestre admirado e amado, administrador competente, humano e de firme determinação, vem adorna-lhe o espirito de virtude da bondade dando-lhe o apelido de São Juliano, o escritor Humberto de Campos. Acho que só uma mera coincidência.

Juliano Moreira deixa o seu legado de paciência e simplicidade, a visão social de que as pessoas portadoras de problemas mentais também eram seres humanos, apenas doentes, e que deviam ser tratados como doentes, e não como anormais perante a sociedade. Este é um grande exemplo a ser seguido.

O primeiro ocupante desta cadeira, o professor Luiz Pinto de Carvalho, nasceu em 1877, diplomou-se em medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia aos 21 anos em 1898. Desde os tempos acadêmicos revelou-se possuidor de cultura literária e artística. Dedicou-se a neuropsiquiatria e pediatria, vindo a ser professor de neurologia. De excelente formação humanística, era exímio pianista e critico teatral. Quando convocado para direção da saúde pública do nosso estado atuou com descortínio e inteligência criando no Hospital de Isolamento posto de quarentena quando de muitas epidemias em Salvador. Polemista, primoroso orador, manteve diversos debates com representantes do clero. Faleceu aos 88 anos em 1965.

O segundo ocupante desta cadeira, o professor Plinio Garcês de Sena, nasceu em 1926, ingressa na Faculdade de Medicina da Bahia em 1947, formando-se aos 26 anos em 1952. Dois anos após a diplomação é nomeado assistente da Cátedra de Neurologia sob a chefia do professor Edistio Pondé e em 1962 torna-se docente livre de Neurologia da Faculdade de Medicina da Bahia assumindo o cargo de professor adjunto. Em 1963 ingressa na Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública como professor de neurologia. Vinte anos decorreram para concretizar das suas aspirações, a maior, tornar-se professor catedrático de neurologia.

Fruto da sua inquietação intelectual promove, através de conferências, cursos, seminários, palestras e simpósios a interiorização da Neurologia baiana. Com inúmeras publicações em revista médicas, vários livros publicados e participações em eventos científicos, deixou um legado louvável para Neurologia Clinica.

O ultimo ocupante desta cadeira, o professor Ruy Machado da Silva, médico e filósofo gradado pela Universidade Federal da Bahia, autor de diversos trabalhos científicos na área da Medicina Tropical e Endemias Regionais, foi admitido no quadro de docente da Universidade Federal da Bahia quando, por dispositivo legal, as nomeações dependiam da indicação feita pelos professores, porém, fez questão de se submeter à defesa de tese para obtenção do Doutorado e à Docência Livre, em concurso público de títulos e provas.

Não satisfeito após a graduação iniciou um curso de Filosofia, trazendo para medicina mais um subsidio importante. Foi um idealista quanto à interiorização da Medicina, posto à prova nas lides que empreendeu na Bahia ao lado de Plínio Garcês. 

Membro atuante de várias entidades científicas e culturais, autor de inúmeras publicações no campo da Tropicologia Médica, da Filosofia, da Gerontologia e das ciências sociais, Ruy Machado é um exemplo para todos nos e as gerações futuras. 

Sucede-lo, inicialmente será um desafio que procurarei me esmerar para realiza-lo a contento. Tenho certeza que o seu espirito atuante servirá de exemplo a todo o momento para que eu possa me inspirar e tornar essa vontade realizada.

Psiquiatras, Neurologistas, Filósofos: O que um Cirurgião Plástico tem a ver com tudo isso? Garanto-lhes que tem tudo a ver. Lidamos com o psicológico dos pacientes de forma continuada e precisamos ser filósofos para entender e conduzir as vontades inerentes a cada pessoa. Já dizia meu mestre o Prof. Paulo de Castro Correa: “O Cirurgião Plástico é um psiquiatra com um bisturi na mão”, outro mestre o Prof. Ivo Pitanguy dizia sempre: “Cada raça tem o seu conceito de beleza e dentro de uma mesma raça cada ser humano tem uma forma particular de perceber, raciocinar e julgar a sua imagem”.

Neste momento eu faço uma retrospectiva e vejo diante dos meus olhos representado nesta plateia a minha família, o meu esteio a minha forma, a minha referencia e o meu porto seguro, vejo os meus amigos de infância, da minha adolescência e da idade adulta, que são os direcionadores, o ombro seguro a certeza de poder contar, vejo meus colegas de profissão que a todo o momento com muitas trocas de informações faz o nosso trabalho mais fácil e, vejo os meus colegas de faculdade, que lembrança boa, onde tudo começou de forma bem alicerçada para poder prosperar, vejo meus colegas e funcionários da clinica e hospitais, lidar todos os dias sem perder o entusiasmo é a nossa missão maior, vejo meus professores e penso que missão invejável essa de vocês, segurar na mão e mostrar o melhor caminho, vejo meus colegas professores da faculdade, funcionários, alunos, monitores, liga acadêmica, vocês acham que eu estou ali apenas para ensinar, se enganam, aprendo muito mais do que ensino, abro a minha cabeça e vislumbro um aprendizado impar, que não se encontra nos livros didáticos. Se eu olhar com muita atenção vejo meus pais, Tenente Lauro e Dona Mariá, como orgulhosos estariam eles se estivessem aqui. Onde quer que estejam sei que estarão vibrando por mim. 

Chego a Academia e reencontro os meus professores, minhas referências, meus ídolos e digo para mim mesmo agora tudo recomeça, vou me envolver de corpo e alma, quero aproveitar cada minuto da convivência de vocês, quero crescer com essa instituição tão prestigiada e quem sabe num esforço sobre humano como uma forma de recompensa, eu possa somar algo a vida de vocês e ao engrandecimento desta nossa tão grandiosa Academia de Medicina da Bahia.
Muito obrigado
 

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