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Ronaldo Ribeiro Jacobina
Ronaldo Ribeiro Jacobina
Cadeira 29
10/10/2018
19:00
Discurso de Posse na Academia de Medicina da Bahia de Ronaldo Ribeiro Jacobina

Exmo. Presidente da Academia de Medicina da Bahia, Professor Dr. Antônio Carlos Vieira Lopes,
Exma. Confreira Emérita Professora Eliane Elisa de Souza e Azevêdo,
Exma. Confreira e Amiga Professor Maria Betânia Toralles, tomando posse comigo hoje,em nome dos quais cumprimento os demais componentes da Mesa.

Prezados Confrades. Confreiras, Colegas da Fameb, Estudantes, Familiares, Amigas e Amigos.

É uma honra ocupar a cadeira de número 29 da Academia de Medicina da Bahia, que tem como Patrono, o Professor e Escritor Júlio Afrânio Peixoto; e como último ocupante, a Acadêmica Emérita Professora Eliane Azevêdo, ambos emitentes Professores da Bicentenária Faculdade de Medicina da Bahia.

Vamos relembrar aqui um pouco da história do nosso patrono:

Prof. Dr. Júlio Afrânio Peixoto que nasceu em Lençóis, Lavras Diamantinas, Bahia, em 17 de dezembro de 1876. Filho de Virgínia de Morais Peixoto e Francisco Afrânio Peixoto, foi criado no interior da Bahia, cujos cenários vão constituir a cena de muitos dos seus romances, mas sua formação intelectual se fez em Salvador.

Formou-se pela Faculdade de Medicina e de Farmácia da Bahia, em 1897 (81ª turma), tendo sido aluno laureado. Sua tese inaugural, Epilepsia e crime, despertou grande interesse nos meios científicos do país e do exterior.

O acadêmico Afrânio Peixoto tem um protagonismo ainda estudante de medicina. Em 1896, o jovem Professor Dr. Juliano Moreira se matriculou para o concurso de Lente Substituto da 12ª seção – Clínica Psiquiátrica e doenças nervosas. Além de Moreira, havia mais dois candidatos. Dos cinco membros da banca examinadora, designados pela Congregação, corria pelos corredores da Faculdade a notícia que um dos candidatos (da elite sergipana) contava com a simpatia de três professores, conhecidos pelas suas posições escravistas, conforme registra o biógrafo e médico Alexandre Passos (1975, p.16) .

Naquele momento, destacou-se a força coletiva dos Acadêmicos de Medicina, pois eles decidiram zelar pela lisura do concurso, que era público. Os acadêmicos, sobretudo os sextanistas, sob a liderança de Afrânio Peixoto, acompanharam de perto os exames: prova oral, prova escrita com leitura pública, prova prática e defesa de tese. Com quatro tipos de verificação por 5 examinadores, o prof. Juliano Moreira obteve a média máxima (10). Sua tese de concurso foi considerada “um trabalho perfeito e defendido cabalmente”, como registra o arquivista Anselmo Pires de ALBUQUERQUE (1933). Juliano Moreira agradeceu aos estudantes, liderados por Afrânio: “Mocidade altiva desta escola: “[...]. A vós, que sereis no futuro a tradição vivaz do presente, vós, nessa terra de amnésicos, eu tomo por testemunha do modo por que transpus os humbrais desta Faculdade. (MOREIRA, 1896, p. IX). E já professor Afrânio Peixoto, numa homenagem póstuma ao sábio e amigo, disse:

“Depois de memorável concurso na Faculdade da Bahia, sagrado mestre pela congregação, nós, os estudantes do sexto-anno da occasião, respeitosamente, o elegemos sexta-anista honorário e o convidamos para uma festa de estudantes; elle acceitava título e convite”. (PEIXOTO, 1933, p. 180; grifo nosso)

Formado, Afrânio Peixoto iniciou sua carreira docente como Preparador de Medicina Legal na Fameb. Logo depois, em 1903, o político baiano José Joaquim Seabra, Ministro da Justiça e Negócios Interiores, o convidou para atuar na capital federal. Na verdade, ele e seu colega Moreira, já se encontravam residindo no Rio de Janeiro desde novembro 1902. Pediu exoneração das funções docentes na FAMEB, que foi concedida em 1903. (FACULDADE, 1903, p. 431)

Seu primeiro vínculo na capital federal foi como Inspetor de Saúde Pública (1902); depois, a convite do diretor e amigo Juliano Moreira, foi para a diretoria do Hospital Nacional de Alienados, em 1904.

Entre 1904 e 1906, realizou viagens por vários países da Europa, sobretudo na França, com o propósito de ali aperfeiçoar seus conhecimentos, aliando também a curiosidade de arte e turismo.

Na primeira viagem à Europa, em 1904, travou conhecimento, a bordo, com a família de Alberto de Faria, da qual viria a fazer parte, sete anos depois (1911), ao casar-se com Francisca de Faria.

Sobre sua experiência de estudos no Instituto Pasteur, em Paris, Carlos da Silva Lacaz diz: “[...] sempre se referia ao que ali ganhou na força do método, como elemento fundamental na sua formação científica”. (LACAZ, 1963, p. 40)

Em 1906, após concurso na capital federal, foi nomeado Professor de Medicina Legal e Higiene da Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1907) e assumiu o cargo de Professor Extraordinário daquela Faculdade de Medicina (1911).

Quando da morte de Euclides da Cunha (1909), foi Afrânio Peixoto quem examinou o corpo do escritor assassinado e assinou o laudo.

De suas obras, na psiquiatria em coautoria com o ex-mestre e agora colega Juliano Moreira os destaques foram os estudos sobre a paranoia; o da Classificação das doenças mentais; e aqueles que refutaram a tese que as doenças mentais seriam influenciadas pelo clima e pela raça.

De sua obra médico legal, já destacamos a Tese doutoral: Epilepsia e Crime; mas merecem registro tanto o estudo sobre a questão do Alcoolismo, bem como o livro que escreveu sobre Psicopatologia Forense (1938).

Como não fazemos uma história celebratória cabe aqui um registro sobre sua ferrenha campanha na Academia Nacional de Medicina contra a indicação de Carlos Chagas, pesquisador responsável pela descoberta do agente etiológico Trypanosoma cruzi, dos vetores e de formas clínicas da “Doença de Chagas”, para Prêmio Nobel de Medicina de 1921.

Houve uma “divergência científica” quanto ao bócio endêmico ser “assimilado à tal tripanozomiase”. Diz Peixoto (1922, f. iii-iv): [...] “para mister impatriótico de gratificar uma fama pessoal com uma calamidade pública”.)

Alguns chegam a responsabilizá-lo por Carlos Chagas não ter obtido o prêmio, ante as divergências entre cientistas no próprio país do indicado (MAIO, 1994), mas deve-se ter cautela, pois foram 44 indicados e nenhum premiado.

Enquanto Pirajá da Silva e Hilário de Gouveia indicaram Chagas, outro brasileiro, C.S. de Magalhães, do Rio de Janeiro, indicou Patrick Manson, conforme destacou Naftale Katz em conferência no XVII Congresso Brasileiro de História da Medicina, São Luís, em 9 de novembro de 2012.

Bem Afrânio Peixoto foi também um educador e político. Vejamos: foi Diretor da Escola Normal do Rio de Janeiro (1915); Diretor da Instrução Pública do Distrito Federal (1916); Fundador do Instituto de Educação do Rio de Janeiro (1932) e nele foi Professor de História da Educação. No magistério, foi o primeiro Reitor da Universidade do Distrito Federal, em 1935. Integrou como membro e participante ativo e do Conselho Diretor da Associação Brasileira de Educação (1933-1947). Criou a Inspeção médico-escolar; empenhou-se no aperfeiçoamento da formação dos educadores, sobretudo o Professor Primário e entre suas obras pedagógicas destaca-se a “Educação da Mulher”, de 1936. Como carreira política, Deputado federal pela Bahia (1924-1930).

Cabe agora, destacar o Afrânio Peixoto escritor. Ainda na BAHIA, sua obra de estreia na literatura se deu dentro da atmosfera do simbolismo, com as publicações de Rosa mística e de Lufada sinistra (1900). A primeira é um curioso e original drama em cinco atos, levado pelo amigo Juliano Moreira para ser luxuosamente impresso em Leipzig, com uma cor para cada ato.

O próprio autor renegou essa obra, anotando no exemplar existente na Biblioteca da Academia, a observação: “Incorrigível. Só o fogo."

Já no Rio, em 1902, seu pensamento era de apenas ser médico, tanto que deixara de incursionar pela literatura após a publicação de Rosa mística e Lufada sinistra (em coautoria com Juliano).

Nesse período sua obra médico-legal se avolumou. A retomada à literatura se deu de modo curioso: ele foi levado a voltar a literatura, em decorrência de sua eleição para a Academia Brasileira de Letras, para a qual fora eleito à revelia, em 7 de maio de 1910, para a Cadeira n. 7, na sucessão de Euclides da Cunha. Lembrar que ele foi o legista que examinou e assinou do laudo do grande escritor de Os Sertões.

Ele estava no Egito, em sua segunda viagem ao exterior. Lá, começou a escrever o romance A esfinge, o que fez em três meses. O Egito inspirou-lhe o título e a trama novelesca, o eterno conflito entre o homem e a mulher que se amam, transposto para o ambiente requintado da sociedade carioca, com o então tradicional veraneio em Petrópolis. Já nessa obra ele adotou o estilo regionalista: no capítulo O barro branco, conduz o personagem principal, Paulo, a uma cidade do interior, em visita aos familiares. Era a memória de Lençóis e da região das lavras diamantinas na Bahia.

Depois, destacam-se a trilogia de romances regionalistas: Maria Bonita (1914), Fruta do mato (1920) e Bugrinha (1922), que foi duramente criticada pelos modernistas. De todo modo, estas obras trazem importante análise psicológica das personagens femininas.

Em suas obras, também foi destaque as biografias, como o ensaio Castro Alves, o poeta e o poema (1922); e, entre os livros de crônicas, o Breviário da Bahia, escrito com amor para celebrar sua terra natal. (PEIXOTO, 1946)

Segundo a Academia Brasileira de Letras, Afrânio demonstrou “a força telúrica” (a atmosfera) com que impregnou a sua obra novelesca. O romance publicado em 1911, A esfinge, obteve um sucesso incomum e colocou seu autor em posto de destaque na galeria dos ficcionistas brasileiros.

O crítico literário Alfredo Bosi, autor do clássico História concisa da literatura brasileira, fez uma análise contundente sobre as principais obras literárias de Afrânio Peixoto: "A verdade é que nunca ultrapassaram os lugares-comuns do provincianismo cultural de festejado acadêmico".

Agora o poeta Afrânio Peixoto. Ele foi o introdutor no Brasil do Haicai, o curto poema japonês feito em terceto. Permitam-me recitar dois:

“Arte de Resumir”

O ipê florido, / Perdendo todas as folhas, / Fez-se uma flor só.

E “Perfume Silvestre”

As coisas humildes / Têm seu encanto discreto: / O capim melado...

Em conclusão desta breve biografia, cito o texto oficial da Academia Brasileira de Letras, que diz ser Afrânio Peixoto “[...] dotado de personalidade fascinante, irradiante, animadora, além de ser um primoroso conferencista, conquistava pessoas e auditórios pela palavra inteligente e encantadora”. “Como sucesso de crítica e prestígio popular, poucos escritores se igualaram na época a Afrânio Peixoto”.

Enfim, Afrânio Peixoto ‒ médico legista, psiquiatra forense, professor, político, crítico, ensaísta, romancista, historiador literário ‒ procurou resumir em sua biografia e o seu intenso labor intelectual exercido na cátedra e nas centenas de obras que publicou em dois versos: "Estudou e escreveu, / Nada mais lhe aconteceu."

Júlio Afrânio Peixoto se encantou no Rio de Janeiro, em 12 de janeiro de 1947. Em Vitória da Conquista, foi criado, em 1966, o Hospital Psiquiátrico Afrânio Peixoto. É nome de rua em Salvador, Fortaleza,

Osasco e outras cidades. E mais uma prova de que ele está encantado nos nossos corações e nossa memória ele é o Patrono da Cadeira n. 29 da Academia de Medicina da Bahia.

Nesta cadeira o último membro Titular, agora Emérita de todos os Méritos, a Prof.ª Dr.ª Eliane Elisa de Souza e Azevêdo.

Nasceu em Tanquinho – BA, em 12 de março de 1936. Filha da Professora Judith Soares de Souza e Azevêdo e do dentista Dr. José Adolpho Magalhães Azevêdo. Diz nossa Emérita: “Aos quatro anos de idade meu pensamento voltou-se para doença, médicos, [...]. Em Salvador os médicos disseram que era poliomielite aguda. [...] Que minhas pernas deixaram de me fazer andar, eu já sabia.[...]. A vontade de ser médica surgiu aí, graças à pólio”.

Pelo seu relato acima, foi devido ao seu problema de saúde, que a menina passou a ter muito contato com médicos e começou a despertar interesse/curiosidade pela Medicina. E foi a leitura de um livro sobre o átomo que despertou sua paixão pelas Ciências.

Somente aos 6 anos voltou a andar normalmente, não deixou a doença atrapalhar a vida e usando um velocípede conduzido por um amigo e vizinho, deu início aos estudos.

Em 1949, sua família se mudou para Feira de Santana a fim de permitir ela cursar o ginásio (Colégio Santanópolis e Ginásio Estadual da Escola Normal). Em 195, concluiu o ensino médio no Instituto Normal da Bahia em Salvador.

Diz ela: “Em 1953 passei a residir em Salvador a fim de cursar o científico e preparar-me para o vestibular de medicina”. [...] “Em janeiro de 1956, entrei na faculdade que a partir de então se integraria à minha vida: Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade da Bahia”.

De seu curso médico faz o seguinte destaque: “Os Professores Zilton Andrade e Sérgio Santana orientaram-me no que resultou ser minha primeira publicação em revista científica, em 1961, ano de minha formatura”. Formada em Medicina pela FAMEB em 1961. Destacou a questão feminina: “Éramos apenas cinco mulheres entre os 53 formandos. Inquietava-me a desproporção mulher/homem”.

Anos mais tarde, com a colaboração da Dra. Cristina Fortuna, publicaram trabalhos sobre mulher na ciência e na medicina.

UM mestre foi muito relevante na sua formação: “Prof. Roberto Santos, captando minha paixão pela pesquisa, convidou-me a estagiar em seu laboratório (Núcleo de Medicina Experimental) no sexto andar do HUPES. Cursava o 5º ano do curso médico e passei a ser bolsista de iniciação científica do CNPq.”

Trabalhou com a geneticista, Prof.ª Cora Pedreira. Nesse período fez o curso de Bioestatística na Escola de Saúde Pública da USP, em São Paulo. (Um dado curioso: alguns anos depois, seria Chefe do Departamento de Medicina Preventiva da FMB-UFBA).

Cabe aqui uma síntese de sua carreira docente: Em 1962, foi Médica Residente do Hospital das Clínicas (HUPES). Ainda por intermédio do Prof. Roberto Santos, enquanto Residente, foi apresentada ao Dr. Newton Morton da Universidade do Hawaii. Isso possibilitou fazer sua pós-graduação estrito senso no Hawaii: De 1963 a 196, obteve o seu PhD em Genética pela Universidade do Havaí – EUA, com a tese Erythrocyte isozymes, other polimorphisms and the coeffcient of kinship in Northeastem Brazil (Isoenzimas de eritrócitos, outros polimorfismos e os coeficientes de parentesco no Nordeste do Brasil).

Depois, de 1964 a 196, fez seu pós-doutorado (Post-doctoral Fellow) no Serviço de Genética Médica da Universidade de Washington-EUA.

Com essas pós-graduações, fez sua carreira docente: em 1969, foi responsável pela criação do Laboratório de Genética Médica no HC. Chefiou o Laboratório de 1969 a 1975. Criação do Ambulatório de Genética Clínica no Hospital das Clínicas.

Criou a disciplina de “Genética Médica” na Graduação (FAMEB) e nos cursos de Pós-graduação criou “Genética Médica”, “Antropologia Médica” e “Metodologia da Pesquisa e Bioética”.

De1972 a 1973, fez seu pós-doutorado em Londres no Galton Laboratory da Universidade de Londres. Ao voltar, em 1973, se tornou “Professora Padrão C/FMB-UFBA”. E em 1975, tornou-se Professora Titular de Genética Médica da FMB-UFBA. Eliane Azevêdo foi a 2ª Mulher Professora Titular da FAMEB, a primeira Titular, Prof.ª Maria Teresa Pacheco, também foi Confreira e a única mulher Presidente desta Academia de medicina.

Cabe aqui destacar um importante protagonismo em genética: O prestígio da professora nessa área garantiu o reconhecimento de descoberta de um estudante da FAMEB. James Neel, geneticista estadunidense, pesquisador da Universidade de Wisconsin, em Ann Arbor, Michigan, era reconhecido como o descobridor do mecanismo de herança da anemia falciforme, com trabalho publicado em 1947, na revista Medicine (NEEL, 1947). Em 1947, em uma revista local, chamada de Tertúlias Acadêmicas, o acadêmico de Medicina Jessé Accioly (Jessé Santiago Acioly Lins), no 5º ano do curso, publicou um artigo que tinha sido escrito em 1946, sobre a descoberta do mecanismo de herança anemia falciforme. Prof.ª Eliane Azevêdo escreveu carta ao editor americano da conceituada revista em genética médica, o American Journal of Human Genetics. A carta foi publicada no volume 25, número 4, p. 457-458, do mês de julho de 1973. A Professora diz com orgulho que, ao acompanhar a literatura internacional sobre a temática, nela aparece citado: “Neel e Accioly como descobridores do mecanismo de herança da anemia falciforme”.

Agora, merece um registro da pessoa de Eliane. Em 1978, Eliane Elisa se casou com Cindalvo Nascimento Dias, que, na linguagem do afeto, pronuncia-se Timó, pessoa com o papel principal em sua história particular e sujeito fundamental para sua trajetória de realizações.

De volta para sua vida acadêmica, em 1983, Eliane Azevêdo é a primeira mulher eleita para o cargo de Diretor da FMB. Escolhida em 1º lugar pela comunidade da FAMEB numa lista sêxtupla (consulta feita naquele mesmo ano a estudantes, funcionários e professores). Entretanto, não foi empossada. Mas, em 1985 foi eleita em 1984 numa lista sêxtupla e empossada como Vice-Reitora da UFBA. Foi a primeira mulher a assumir a Vice-Reitoria da UFBA, ficando até 1989. No cargo, criou um programa de prestígio nacional: o PIBIC - Programa Institucional de Iniciação Científica. Em 1992 foi a primeira mulher a ocupar o cargo de Reitora da UFBA, ficando até 1993, quando deixou por problemas de saúde. Em 1994, o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras proclamou-a “Membro Honorário” do órgão nacional.

Com esta brilhante trajetória, a nossa Emérita tem inúmeros títulos. Alguns destacamos aqui: Cidadã da Cidade de Salvador, em 1985; A Comunidade do Calabar nomeou Vila Eliane Azevêdo no bairro; recebeu uma Placa dos geneticistas brasileiros que a destacam “pelos grandes serviços prestados à genética brasileira e pelo pioneirismo na Genética Médica em nosso país”; o título de Honra ao Mérito pela Federação Baiana do Culto Afro-Brasileiro, em 1992; foi a Pesquisadora Homenageada pela SBPC, título dado na 53ª Reunião Anual, em 2001; e a Mulher do Século da Assembleia Legislativa da Bahia, em 2002;

Em nossa Faculdade de Medicina, recebeu o Título de “Professor Emérito” da UFBA, por iniciativa conjunta da Faculdade de Medicina da Bahia e do Instituto de Biologia, em 2003. Eis mais um protagonismo feminino na Faculdade de Medicina da Bahia: foi a Primeira Professora Emérita da FAMEB (erro no título para acertar no gênero).

Ainda na Fameb: em 2008, Profa. Eliane Elisa de Souza e Azevêdo, foi a Primeira Mulher Memorialista da história da Faculdade, tendo escrito a Memória transformada em livro: “Memória Histórica da Faculdade de Medicina da Bahia do período de janeiro de 1996 a julho de 2007”. (66ª MH)

Com sua inquietação intelectual, em 2000, Professora Eliane Azevêdo obteve por concurso o título de Professor Titular em Bioética pela Universidade Estadual de Feira de Santana. Criou lá o Núcleo de Bioética e Comitê de Ética na Pesquisa com Seres Humanos (e com Animais). A partir de 2003, Professora Eliane Azevêdo passou a coordenar o Núcleo de Bioética da FAMEB-UFBA, ficando até 2012.

O seu protagonismo ainda não terminou: na relação da Ciência e Religião, teve uma atuação em 1981, quando coordenou a Comissão da Arquidiocese de Justiça e Paz de Salvador, a convite do Cardeal Dom Avelar Brandão Vilela. Em 2004 a 2008, atuou na Comissão de Assessoria para questões de Bioética da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB. E, em 2013, criou com outras lideranças religiosas, acadêmicas e comunitárias o Núcleo “Ciência, Cultura e Fé”, no Instituto Feminino da Bahia, “um espaço onde se discute ciência, cultura e fé em relação a qualquer religião. Somos abertos a ouvir outras crenças, ateus e agnósticos. Buscamos o que nos une e não o que nos separa”. - Eliane Azevêdo, em entrevista a este expositor. (AZEVEDO & JACOBINA, 2014, p.8)

Por fim, recebeu recentemente uma bela homenagem: a Comenda 2 de Julho, numa Sessão Especial de Outorga na Assembleia Legislativa da Bahia, em 22 de março 2018.

Para encerrar, cito um trecho de um relato de um episódio na infância da Mestra que me inspirou um poema declamado na Sessão da outorga da Comenda 2 de julho.

Eis o relato:

“Vejo um homem com sinais de cansaço, seo Crispiniano da Silva, ou melhor, Nêgo Pipa. Ele carregou nos braços até o topo do morro de Tanquinho uma menina de uns 7 anos que somente foi posta no chão “quando tinha o mundo abaixo dos pés e o infinito à frente dos olhos”.

ELIANE - A MENINA, O MORRO E SEU SONHO
In memoriam: A Crispiniano da Silva, o Nêgo Pipa de Tanquinho
E Cindalvo Nascimento Dias, que se pronuncia Timó,na linguagem do afeto.

I
O topo do Morro era o sonho da Menina.
Sim, tinha sequela de poliomielite.
Não, tal lesão não lhe seria um limite.
II
Nêgo Pipa, um homem simples, anjo negro,
Com grande riqueza humana,
Tomou para si esta tarefa irmana (insana?).
III
Em seus braços, a Menina chegou ao topo
E, do alto do Morro, vislumbrou um horizonte.
Os caminhos de sua vida, ensinou-lhe o Monte.
IV
Médica, geneticista, emérita, cientista.
Reitora e vice, memorialista, professora titular...
Em muitos desses títulos, como Mulher, em primeiro lugar.
V
Católica, ecumênica: articula ciência, cultura e fé.
De encarar a “Ditadura” com firmeza foi capaz
Na honrosa Comissão de Justiça e Paz.
VI
Sim, foi lição para a Mestra a subida do Morro.
Todo sonho traz sempre muitos desafios...
Em vez de se afogar, soube navegar pelos rios.
VII
Mas... ainda guardada nesta Mestra de tantos mestres,
Quem é esta Menina determinada, sem medo:
Eliane Elisa de Souza e Azevêdo.

MUITO OBRIGADO!
Para encerrar, faço uma homenagem in memoriam a minha Mãe, Eunice e meu Pai, Deraldo, meus primeiros mestres, sobretudo em Ética, que orientaram a mim e a minhas três irmãs e meus cinco irmãos, alguns deles presentes nesta solenidade.
Minha homenagem a Prof.ª Neci Matos Soares, Titular na Faculdade de Farmácia, e nossas filhas Beatriz e Cecilia. A meu filho André Teixeira Jacobina, que herdou do pai a paixão pela História e se profissionalizou na área.
Não posso deixar de agradecer aos Colegas de turma, simbolizado aqui em Dr. Humberto Barreto, que veio de Ilhéus para celebrar com seu colega e amigo. Aos colegas Funcionários e Professores da Faculdade de Medicina da Bahia e da Universidade Federal da Bahia.

E, por fim, mas tão relevante quanto os anteriores aos inúmeros ex-Alunos/Alunas e as Alunas/os Alunos atuais que quero compartilhar as homenagens que recebo neste momento, pois, aprendi que “mestre é aquele que, de repente, aprende”. Tenho aprendido muito com as/os estudantes, colegas funcionários e colegas professores.

Novamente, meu muito obrigado!
Aqui, em silêncio, projeto meu poema de agradecimento por esta bela acolhida.

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POEMA DA GRATIDÃO
I
ZU DANKEN – THANK YOU
Em línguas germânicas e em inglês
O agradecer se faz, se fará, se fez
Sempre em nível intelectual.
II
MERCI – GRACIAS –GRAZIE
Em francês, espanhol e italiano,
Agradecimento, feito num segundo plano,
É o de dar graças, mercês.
III
OBRIGADO
O agradecer, de ficar ao Outro vinculado,
É a Gratidão em nível mais profundo, sem igual.
Encontrado só em português: Muito Obrigado!
P.S.

ARIGATOU - 有り難う
Mais bela que o sankyo vindo do inglês,
Há uma expressão budista em japonês
Próxima de “Muito Obrigado”: Duomo Arigatou!
Ronaldo Ribeiro Jacobina

Ao professor português António Nóvoa, que me levou ao Tratado de Gratidão de São Tomaz de Aquino

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