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Antônio Natalino Manta Dantas
Antônio Natalino Manta Dantas
Cadeira 13
12/12/2012
20:00
Saudação de Antonio Natalino Manta Dantas a José Valber Lima Meneses

A imortalidade não corresponde à perpetuação do corpo físico de cada Membro Titular, mas, a manutenção da lembrança de seus feitos quando de sua passagem nesta vida terrena. Portanto, Senhores e Senhoras, uma Academia, neste sentido de imortalidade, deve reunir Membros memoráveis. A seleção deve ser muito rigorosa. 

O nosso Regimento, imitando o da Academia Nacional de Medicina, a mais antiga do país, e esta, por sua vez, o das academias Francesas, exige do candidato, ao seu ingresso, além do seu curriculum vitae, um trabalho original e inédito de muito boa qualidade que lhe sirva de lembrança para sempre, chamado, apropriadamente, de Memória.

Parabenizo-o, sobremaneira, Professor Doutor José Válber Lima Menezes por teres entendido o espírito de uma Academia e trouxestes como Memória uma  verdadeira obra prima, tua descoberta original:
 A cura das feridas e úlceras crônicas da pele na doença falclforme.

 Para os circunstantes que desconhecem o assunto, ferida crônica é aquela que não cicatriza naturalmente. Resistem aos mais diversos tratamentos, unguentos, pomadas e até enxertia de pele.
 Hoje, sabemos que a causa está na perda da circulação sanguínea, localizada numa porção restrita de pele, geralmente na perna, por dano microvascular. Os pequenos vasos foram ocluídos, seja por placas de ateroma como na arteríoloesclerose da diabetes ou por embolia de hemácias alteradas em forma de foice, formando rolhas obstrutivas, coma acontece na doença falciforme, tão comum nos afrodescendentes de nosso meio. Naquele local, as células da pele sem suprimento sanguíneo, morrem. Há um verdadeiro enfarte e abre-se uma ferida. Sem circulação sanguínea imediatamente subjacente, que não terá possibilidades naturais de cicatrização. Exposta ao meio ambiente sofre o assédio de bactérias, tornando-se infectada e passa a exsudar um material líquido fétido que umedece qualquer curativo. Os pacientes ficam perambulando, anos a fio, pelos ambulatórios médicos, com curativos úmidos e mal cheirosos, em busca de cura. Geralmente são discriminados pelas pessoas que se encontram próximas.
 A existência de feridas crônicas é conhecida desde a mais remota antiguidade, se perde nas noites dos séculos que se foram e se confunde com a própria origem da humanidade.
Mas, nem os famosos médicos e cirurgiões das civilizações antigas, mesopotâmicas, egípcia, indiana, chinesa, grega, romana, europeia da idade media ou os da renascença encontraram a cura. Nos tempos modernos, com o advento da anestesia e o desenvolvimento da microbiologia e as consequentes adoções de cuidados de assepsia e antissepsia tornaram-se possível à execução, com êxito, de intervenções cirúrgicas mais complexas. Grandes pioneiros de cirurgias de grande porte tornaram-se famosos, Bilroth, Halsted, Kocher, Gibbon e uma infinidade de outros celebrizaram-se pela realização de seus feitos, mas não solucionaram a cicatrização das feridas crônicas de pele.

  Igualmente, no século passado, aqui, na Bahia, tivemos dois grandes cirurgiões gerais, um que pontificou na primeira metade do século, Caio Moura e outro na segunda metade, Carvalho Luz. Hoje, são patronos de cadeiras desta academia. Tive a felicidade de quando acadêmico de medicina e médico residente estagiar no serviço de Carvalho Luz, no Hospital Universitário. Conheci-o de perto e sei avaliar a grandeza deste Professor. Sempre me demonstrou apreço e consideração.
 Caio Moura e Carvalho Luz, dentro das limitações da época, se restringiram a ensinar a limpeza das feridas crônicas, o trato e profilaxia da infecção secundaria, mas não conseguiram a cicatrização.

E eis que o nosso recipiendário de hoje, com este seu feitio simples e modesto, solucionou o problema.
Dois fatos concorreram para tanto. Primeiro, o conhecimento prévio da fisiopatologia da cicatrização das feridas, adquirido por ocasião da elaboração de sua tese de doutorado e segundo, a observação dos bons resultados da neoformação de vasos, induzidas pelas células tronco autógenas introduzidas no local da ósteonecrose do quadril, em portadores da doença falciforme. Trabalho pioneiramente desenvolvido, em nosso meio pelo Professor Doutor, Gildásio Daltro.
Lembro, de passagem, que o Prof. Gildásio Daltro é confrade da nossa Academia e lhe sou igualmente grato por me ter distinguido, com a honra de saudá-lo por ocasião do seu ingresso.

Dessa observação. O Prof. Valber levantou a hipótese de que células tronco autógenas semeadas no leito de feridas crônicas poderiam, também, despertar a angiogênese e permitir a cicatrização.
Da hipótese partiu direto para o teste em seres humanos. Não foi antiético por dispensar experimentação em animais, porquanto o emprego de células tronco em seres humanos já esta bem conhecida por não oferecer riscos.   Os resultados foram magníficos. Feridas que se encontravam abertas há muitos anos passaram a cicatrizar em poucas semanas. Aquelas com mis de oito cm em seu maior diâmetro requerem mais de uma aplicação de células tronco.  
Esse trabalho, ainda inédito, foi reservado pelo autor para concorrer a uma cadeira dessa Academia. Poucos e muito poucos trouxeram a este sodalício um trabalho tão grandioso como Memória. Traz no seu bojo a solução de um problema que os cirurgiões de todos os tempos, antigos e modernos não conseguiram resolver. 
  
Senhores e senhoras a trajetória curricular do festejado de hoje revela uma busca incessante do aprimoramento na qualidade do atendimento aos sofrimentos de seus semelhantes e ensino da Medicina

Graduação.  
Graduou-se em Medicina, em 1978. pela Faculdade de Medicina da Bahia da Universidade Federal da Bahia.

Trajetória de formação Pós-graduada

Sendo sua vontade se diferenciar em Cirurgia Plástica, cumpriu, inicialmente, o pré-requisito obrigatório de Residência Médica de Cirurgia Geral e, assim o fez de1979 á 1981, no Hospital Anna Neri, em Salvador, programa devidamente credenciado pelo Ministério da Educação e Cultura.
Em seguida, de1981à 1983, cumpriu estágio de treinamento em serviço na Clínica de Cirurgia Plástica do saudoso Professor da Escola Bahiana de Medicina. Gerardo Peixoto. Na época era uma referência de Cirurgia Plástica na Bahia. Mas, a consolidação de sua formação especializada se deu no cumprimente de uma Residência formal em Cirurgia Plástica e Reparadora, durante os anos de 1984 e 1985, no renomado serviço de referência internacional do Prof. Jaime Planas, em Barcelona, Espanha.
Voltando á Salvador, além de iniciar sua vida profissional sentiu a necessidade de adquirir formação de pesquisador. E, desta forma, de1993 á1997, cumpriu Curso de Doutorado na Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia. Defendeu a

Tese: 
Ação da vitamina A no processo cicatricial da pele. Estudo experimental em ratos.
Nessa ocasião já revelava o seu interesse sobre a fisiopatologia do processo de cicatrização que veio culminar com essa sua Memória apresentada à Academia

Trajetória docente
Ingressou no magistério superior, da Faculdade de Medicina da Bahia por concurso, como Professor Auxiliar em 1995, dai por diante, percorreu os degraus da Carreira, por mérito na progressão funcional, atingindo, por fim, a condição de Professor Titular. por defesa de memorial, em 2015.
Veio a ser o primeiro Professor de Cirurgia Plástica, Estética e Reparadora a alcançar a Titularidade na Bahia e em todo norte e nordeste do Brasil.
 Tem desenvolvido intensa atividade doente:
a)    ensinando e coordenando a Disciplina de Cirurgia Plástica e Reparadora na graduação e supervisionando o Programa     da mesma especialidade na Residência Médica;
b)     participando de bancas de exame, desde trabalhos de conclusão de curso de alunos até exame de livre-docência e concurso de avaliação de memorial à professor titular;
c)    exercendo vários cargos administrativos: Chefe da Enfermaria de Cirurgia Plástica e Reparadora, Vice Chefe do Departamento de Anestesia e Cirurgia de 2009 à 2012 e de 2012 à 2015, Chefe do mesmo Departamento. Atualmente, desde 2015 é o Vice-Diretor da Faculdade de Medicina da Bahia.

Trajetória científica
A sua atividade científica tem sido incessante a julgar pelas dezenas de trabalhos publicados em revistas especializadas ou em apresentações em congressos. Tem uma linha de pesquisa muito expressiva em cicatrização de feridas que lhe tem permitido algumas premiações em Congressos Médicos. Agora, mesmo já iniciou o tratamento com células tronco em feridas da perna de diabéticos. O tempo não me permite maiores comentários.

Trajetória assistencialista.
O recipiendário ainda tem encontrado tempo para o exercício assistencial da Medicina, seja no serviço público como privado. 
a)    No serviço público foi durante 20 anos Cirurgião Plástico do Hospital Geral Roberto Santos e, atualmente, no Hospital Universitário Prof. Edgard Santos, atende pacientes do SUS, ao tempo em que lhe tem sido possível fazer demonstrações operatórias para acadêmicos e Médicos residentes.
b)    Em clínica privada, mantem consultório na Clinica Nova Face, com atividades operatórias em vários Hospitais de Salvador.

Confrades e confreiras, senhoras e senhores permitam-me, agora, voltar a me dirigir, diretamente ao festejado desta noite, a semelhança do que o fiz no exórdio de minhas palavras.
Senhor Professor Doutor José Valber de Lima Menezes, se teu Curriculum vitae, por si só, já te recomenda para essa Academia,   o teu Trabalho-Memória suplanta tudo mais.
 Nos últimos 12 meses participei da avaliação de sete candidatos que aspiravam conquistar uma de cada cinco Cadeiras desocupadas nessa Academia. No meu entendimento o teu Trabalho-Memória foi, disparadamente e, sem sombra de dúvidas, o melhor de todos tanto na concepção, quanto metodologia e alcance social.

Na sua metodologia, sendo um teste de hipótese corresponde ao que, num ranking das 211 Faculdades de Medicina do país, as duas melhores, ou seja, a Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo e a Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo admitem, restritamente, como Tese Acadêmica. Diferentemente do que algumas Faculdades de Medicina que estão se tornando mambembes por admitirem como teses trabalhos palavrosos que necessitam de uma volumosa discussão para tentar a sustentação de supostas verdades, a semelhança das chamadas teses jurídicas, artísticas ou parlamentares.

A verdade científica, confrades e confreiras, senhores e senhoras, não demanda discussão, ela é simples, ontologicamente auto convincente, por ser faticamente demonstrável e reprodutível.
O alcance social do teu trabalho, em nosso meio, será, sobremaneira, sentido pelos diabéticos e pela comunidade de afrodescendente, onde grassa a doença falciforme. Só na Bahia, admite-se que haja cerca de 20000 casos e destes cerca de 20% desenvolvem feridas ou úlceras na perna. Esta comunidade te devotará um eterno débito de gratidão.

Doravante serás conhecido, pelo mundo afora, como o descobridor da cura das feridas crônicas. Esse trabalho é o teu legitimo passaporte para a imortalidade.
Esta Academia ficou, até, pequena para te receber, mas, se engrandecerá com tua chegada que lhe será muito grata.

 Adventus tuus gratus est.

Ela te recebe de braços abertos.
Sejas benvindo.
 

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