Academia de Medicina da Bahia Scientia Nobilitat
Tamanho da Fonte
Aroldo Bacelar
Aroldo Bacelar
Segundo Autor
27/05/2021
20:00
Saudação proferida por Aroldo Bacelar na Solenidade de Posse de Vilma Sousa Santana na Academia de Medicina da Bahia

Excelentiísimo senhor, Professor Doutor Antônio Carlos Vieira Lopes, presidente da Academia de Medicina da Bahia; Excelentíssimo Professor Doutor Sérgio Augusto Pereira Novis, membro titular emérito da Academia Nacional de Medicina e aqui representando o seu presidente o professor Rubens Belfort, e em nome deles eu cumprimento as autoridades presentes, confreiras, confrades, colegas, senhoras e senhores .

Minhas palavras iniciais são para apresentar o conceito de academia e introduzir a Academia de Medicina da Bahia nesse contexto.

O nome academia origina-se de Academo, um heroi da mitologia grega, porque no jardim onde se supõe estar o seu túmulo, houve a primeira reunião de gregos ilustres comandada por Platão. Ali Platão criou sua escola de filosofia.

Outras academias com objetivos da troca e difusão de conhecimentos surgiram em Roma e de Florença, e também na Franca e Inglaterra.

No Brasil, a primeira conhecida foi a Academia Brasilica dos Esquecidos – criada em Salvador no ano de 1724, sob os auspicius do Vice-Rei Dom Vasco Fernandes Cesar de Menezes.

Na sequência surgiu a Academia dos Renascidos em Salvador, no ano de 1759. E elas agora são representadas pela Academia de Letras da Bahia, fundada em 7 de julho de 1917 por Arlindo Fragoso, um engenheiro.

Dentre as academias médicas destaca-se a Academia Nacional de Medicina, fundada em 1829 no Brasil Colônia e, até hoje, semanalmente os acadêmicos se reúnem e produzem textos científicos.

A nossa Academia de Medicina da Bahia foi fundada em 10 de julho de 1958, no salão Clementino Fraga do Hospital Santa Isabel, tendo como participantes os baluartes da Medicina da época, citados pelo Professor Geraldo Leite no seu artigo Primeiros Vagidos da Academia de Medicina da Bahia

A admissão na Academia de Medicina da Bahia é realizada mediante concurso público, no qual são avaliados o curriculo vitae, a trajetória do candidato na assistência médica, no ensino, na pesquisa, a participacao em entidades de classe e em atividades socio-culturais relacionadas à Medicina.

A novel acadêmica Vilma Santana preencheu todos os critérios e obteve um dos maiores escores para seu ingresso.

Portanto é com muita honra que tenho o privilégio de apresentá-la.

Vilma Santana é médica formada pela UFBA em 1974, que teve sua atividade assistencial na área de Psiquiatria, Medicina Preventiva e Saúde Mental, sobretudo na Saúde do Trabalhador.

Vilma teve uma educação médica sólida. Cursou o Mestrado em Saúde Comunitária da UFBA, Doutorado em Epidemiologia na Universidade
da Carolina do Norte em Chapel Hill, EUA, e o Pós-Doutorado em Epidemiologia Ocupacional na mesma universidade norte-americana.
Vilma tem participado em diversas instituições da classe médica, algumas na diretoria, como na Associação Psiquiátrica da Bahia, Associação Brasileira de Psiquiatria, e outras até como sócia-fundadora Associação de Profissionais da Saúde Pública, Associação Brasileira de Saúde Coletiva
Como gestora foi vice-chefe do Departamento de Saúde Coletiva 1, foi assessora da chefia em diversas ocasiões e coordenou o Programa de Pós- Graduação do Instituto de Saúde Coletiva. Foi também Diretora do Programa de Estudos Epidemiológicos e Sociais do Departamento de Medicina Preventiva da UFBA.
Criou o Programa Integrado em Saúde Ambiental e do Trabalhador PISAT, que integra a estrutura matricial do ISC-UFBA, desde 1996, e se tornou um dos mais importantes núcleos de pesquisa, cooperação técnica e ensino da Epidemiologia em Saúde do Trabalhador do país.
O pisat é Pioneiro na oferta de ensino a distância, desde 1999 o PISAT mantém cursos de especialização em Saúde do Trabalhador, e mais recentemente em Epidemiologia em Saúde do Trabalhador. O PISAT é centro colaborador do Ministério da Saúde desde 2008, mantendo um portal na web com mais de 30000 acessos. Nesse portal se disponibilizam bases de dados, boletins epidemiológicos em formato digital e audiovisual, tutoriais de uso sistemas de informações e outros documentos normativos.

Com relação a atividade didática Vilma atingiu em 2017 a posição de Professora Titular do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia.

Vilma foi Professora Adjunta Estrangeira da Universidade da Carolina do Norte- CH – EUA de 1996-2015, e colabora com a Universidade Nacional de Lanús, na Argentina.

Como pesquisadora, desde 1986, antes de iniciar a carreira acadêmica já tinha alcançado uma das posições de mais alto reconhecimento do Conselho Nacional de Pesquisa o CNPQ, a Bolsa de Produtividade em Pesquisa, atualmente no nível 1-C. Na CAPES participou da Comissão de Avaliação de Cursos de 2001 a 2008, da área Multidisciplinar.

Alem disso Vilma ja orientou mais de 30 dissertacões de mestrado, 30 teses de doutorado, e quatro alunos de Pós-Doutorado, e publicou quase duas centenas de trabalhos em periodicos nacionais e internacionais, mais de 20 capítulos de livros, e inúmeros volumes de materiais didáticos e relatórios técnicos.

A trajetória de Vilma

Nascida em Valença, em abril de 1950, filha de pais operários da 1ª. fábrica do país, de tecidos, Vilma iniciou os estudos primários com a dona Bebé e em seguida na Escola Primária Municipal de Valença.

Seus pais migraram para Salvador, onde estudou no Centro Educacional Carneiro Ribeiro, em experiência de Anísio Teixeira; voltou à terra natal, onde estudou no Ginásio Estadual de Valença até 1965. Retorna a Salvador e ingressou no glorioso Colegio Estadual João Florêncio Gomes em 1966 quando lhe conheci e onde fomos colegas.

O nosso Colégio era público, de alto nivel. De nossa turma de pouco mais de 25 alunos, do curso científico, passaram no vestibular e se graduaram na Faculdade de Medicina da UFBA, oito colegas. Isso sem contar os arquitetos, engenheiros, economistas dentre outros profissionais.

Na faculdade Vilma se alinhou aos professores de Psiquiatria, de excelência reconhecida no pais e internacionalmente, sob a liderança. do grande Professor Alvaro Rubim de Pinho, e dos herdeiros do famoso Nelson Pires. Vilma cita em seu memorial a participação em sessões científicas e grupos de discussão no HUPES, 3-B e no Sanatório S. Paulo, com Luiz Meira Lessa, Albano, Uraci, Irineu, Francisco Moura, Mario Nascimento e outros.
Ainda no internato, no sexto ano médico escreveu um artigo, que mais tarde publicou na Revista Bahiana de Saúde Pública em 1977. Também os professores Rosa Garcia, Roberto Miguel, Jessé Acioly, Adilson Sampaio, e Luís Umberto Pinheiro influenciaram sua vida acadêmica.
Nossa turma estagiou com o Professor Celso Pugliesi que desenvolvia um Programa de Medicina Comunitária no Nordeste de Amaralina, e lembro-me frequentavamos no periodo vespertino. Vilma se encantou. Foi quando participou de diversos programas inclusive da Saúde Mental de mulheres no pré-natal. Na sequência foi influenciada por Luiz Umberto Pinheiro que veio de um estágio na Universidade de Londres trazendo informações do serviço público de saúde da Inglaterra. O Sistema Nacional de Saúde inglês que eu tive o privilégio de conhecer já utilizava nos anos setenta uma Medicina hierarquizada com as unidades de atenção a saude, apoiadas pelos epidemiologistas e estudiosos de Economia da Saúde. Todas essas ideias levaram Vilma a decidir por um Mestrado em Saúde
Comunitária focalizado na Saúde Mental. Nesse ambiente, ela fez sua primeira pesquisa e publicou o Estudo Epidemiológico sobre Doenças Mentais no Nordeste de Amaralina, um inquérito de base populacional onde ela utilizou um instrumento que foi criado e validado para este trabalho.
Vilma, portanto, trocou a residência médica em Psiquiatria da UFBA por um estágio sob a forma de residência em razão da possibilidade de cursar o Mestrado em Saúde Comunitária que era financiado pela Fundação Rockfeller atrelado à criação do Programa de Saúde Mental do Departamento de Neuropsiquiatria. Já no segundo ano de mestrado foi contratada pela FAPEX – Fundação de Apoio a Pesquisa e Extensão da UFBA como assistente de pesquisa do Departamento de Neuropsiquiatria.
Como participante dos estudos de implantação do Programa de Ações em Saúde Mental Integrado a Atenção Primária que fazia parte da pauta da Organização Panamericana de Saude e da Organização Mundial da Saude, Vilma foi contemplada com um estágio na Universidade del Valle em Cali- Colombia com o professor Carlos Climent.
Para Vilma o Mestrado em Saúde Comunitária foi fundamental para seu aprendizado de Epidemiologia, Bioestatistica e Gestão de Projetos. Nesta ocasião ela teve como um dos colaboradores o colega do mestrado Naomar Almeida Filho.
Seu interesse em estudos da Epidemiologia teve inicio no curso médico com Harley Padilha, em 1972, e com Sebastião Loureiro no mestrado; e em 1989 quando viajou para cursar o doutorado na Carolina do Norte em Chapel Hill com notoriedades como Steve Wing, David Kleinbaum, David Kupper, Carl Shy e Dana Loomis. Concluiu seu doutorado em 1993.
Em 1998 voltou para um pós-doutorado em Epidemiologia Ocupacional sob direção de Dana Loomis financiado pela Fogarty Fundation NIH dos USA.
Em sua trajetória Vilma elaborou e participou de diversos Projetos de Saúde Pública de alta relevância para a Saúde Mental, em seguida para Saúde Mental do Trabalhador. E considera que a sua maior conribuição para o campo, foi compreender que a proteção do Estado para garantir inspeções e açõe de higiene e segurança não cobrem metade dos trabalhadores. E esses também estão excluídos da rede de proteção previdenciária, contributivista. Isso é muito diferente do cenário europeu ou dos países de alta renda, onde essa fração não passa de 5%.

Foi assim que passou a estudar tanto os trabalhadores de emprego formal como os trabalhadores informais, a exemplo de empregadas domesticas, pedreiros, feirantes, vendedores de rua, crianças que trabalham e mulheres de dupla jornada. Para tal Vilma fez muitas parcerias com todas as entidades de apoio a pesquisa na Bahia, no Brasil, diversos ministerios, orgãos e agencias do governo federal.
Alem disso Vilma tem efetivado parcerias com universidades americanas, europeias e sulamericanas, como a Universidade da Carolina do Norte, Universidad Nacional de Lanus, Universidade de Barcelona, de Toronto, a University College e a London School of Hygiene and Tropical Medicine; assim como com agencias e orgãos internacionais, os mais importantes como o Fogarty International Center e o National Institute of Health dos Estados Unidos da America.
Vilma permanece muito focada, engajada e muito produtiva, sobretudo com as redes internacionais de apoio à construção de melhores
condicoes de trabalho, proteção social e de acesso a serviços de prevenção de riscos e de promoção da saúde do trabalhador.
O seu mais recente Projeto envolve as consequências da exposição ao asbesto/amianto no Brasil, esse um projeto gigante com apoio inclusive do Ministério Público da Saúde de Campinas e o Ministério do Trabalho, um estudo de 375 000 trabalhadores seguidos por 30 anos .
Enfim apos detalhada analise de tudo que Vilma tem realizado concluo que ela é a médica, a professora, a pesquisadora e a gestora de maior importância para a saúde do trabalhador em nosso país. Uma guardiã da saúde e da justiça social relacionada a saúde dos trabalhadores do Brasil.

Nossa Academia está em festa pela admissão de mais uma confreira de alto nível com todas as virtudes do sexo forte especialmente a resiliência, persistência, a dedicação a todos os detalhes do trabalho científico; e, sobretudo, compaixão, proteção e amor ao paciente, essenciais para a assistência médica, ensino e a pesquisa.

Aroldo Bacellar

Academia de Medicina da Bahia
Praça XV de novembro, s/nº
Terreiro de Jesus, Salvador - Bahia
CEP: 40026-010

Tel.: 71 2107-9666
Editor Responsável: Acadêmico Jorge Luiz Pereira e Silva
2019 - 2024. Academia de Medicina da Bahia. Todos os direitos reservados.
Produzido por: Click Interativo - Agência Digital